Daqui eu vejo o céu anoitecendo
e, a grandeza da face reassumindo,
as árvores na linha da montanha.
A pureza das coisas refluindo.
Jamais o «écran» vazio do cinema.
Imagem deslumbrante, mas imagem.
Só, do terraço
entro profundamente na paisagem.
Uma ternura, espírito nascente,
limite da impureza quotidiana,
raiz que é doce
e me percorre os olhos até à alma.
A lua
hipnotiza o silêncio, lambe as cores
e põe na estrada um hálito de cera
que se decide em ctónicos rumores.
A noite escorre. Passa
nas ramagens, nos dedos e no rio.
Volume imponderável que se esgarça
e se reintegra novamente. Fio
onde os regatos bebem a ternura
que gera das raízes o começo.
Fio infinito, rede que se adensa
e dá a aparência de tudo ser espesso.
António Cabral
Comentários
Lindissimo poema como sempre, belas escolhas.
Beijinhos