Não chove nem faz sol na minha rua.
É a hora triste. Aquela hora morta
em que uma sombra nos espreita a porta
e pelas frinchas gastas se insinua.
Monótona e distante quer a lua
reflorir ao luar, na minha horta,
aquela cerejeira velha e torta
que há muitos anos amanhece nua.
Um cão sujo, faminto, vagabundo,
com ar de quem já sabe o que é o mundo,
para ali se ficou lambendo uns pratos…
Passa gente embrulhada em roupas velhas…
E sobre as casas, através das telhas,
A sinfonia bárbara dos gatos.
Fernanda de Castro
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