Serei eu alguma hora tão ditoso,
que os cabelos, que Amor laços fazia,
por prêmio de o esperar, veja algum dia
soltos ao brando vento buliçoso?
Verei os olhos, donde o sol formoso
as portas da manhã mais cedo abria,
mas, em chegando a vê-los, se partia
ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?
Verei a limpa testa, a quem a Aurora
graça sempre pediu? E os brancos dentes,
por quem trocara as pérolas, que chora?
Mas, que espero de ver dias contentes,
se para se pagar de gosto uma hora,
não bastam mil idades diferentes?
Francisco Manuel de Melo
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