Gosto de ouvir a música suave,
neste sonho de amor de que me ufano,
se as tuas mãos, num brando vôo de ave,
adejam sobre as teclas do piano.
Como um raio de sol dourando a nave
duma igreja, fechada todo o ano,
vibram em mim, numa harmonia grave,
murmúrios da floresta e do oceano.
Embevecido, fico a ouvir, olhando
tuas mãos, - asas brancas palpitando
como pombas, á tarde, num jardim.
E uma dúvida, então, me prende e embala:
- é se as notas, que vibram pela sala,
vêm das mãos ou das teclas de marfim . . .
Francisco Espínola de Mendonça
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