Onde o Homem não chega tudo é puro,
dessa pureza da primeira infância.
Tudo é medida, ritmo, concordância,
tudo é claro e auroral: a noite, o escuro.
E nem o vendaval é dissonância
mas promessa de sol e de futuro.
Quem levantou esse primeiro Muro
que do perto fez longe, ergueu distância?
Foi o Homem, com suas mãos de barro,
com suas mãos perjuras, fel e sarro
de inútil sofrimento e vil prazer.
Não é tarde, porém: sacode a lama,
ergue o facho, levanta a Deus a chama
e recomeça: acabas de nascer.
Fernanda de Castro
Comentários
Está lindo, o blogue.
Gosto muito da música também,..foi muito bem escolhida.
Parabéns.
O poema é como que um grito de revolta da autora, perante os estragos que a insensibilidade humana provoca.
Sabe que é uma coisa contra a qual eu me insurjo tantas vezes também?
Eu costumo dizer com muita frequência: Onde o homem põe a mão, estraga.
Quanto á autora, não conhecia nada da sua obra. Mas lendo o poema ao Jorge (meu marido) que está aqui ao lado, ele rápidamente me deu informação sobre a mesma e a sua obra. Inclusivé que foi mulher de António Ferro.
Obrigada.
Um abraço e uma boa noite de descanso
viviana