Soneto martelado- José Blanc de Portugal


A tarde, é  por de mais calma,
Afogou-me o que ficara da partida
Tudo que inventara, essa mentira querida
Que ficara fazendo as vezes da alma.

Passa e segue a triste gente calada
E o correio e a luz quebrada no muro
Trazem a tarde, recortando duro
O perfil triste e morno desta minha estrada.

E choca e vem de mim até ao céu polido
Liso e puro e sempre igual estendido
Sobre mim e a rua desolada,

Uma ilusão que nada tem de alada
E é feita de aço puro e diamantes:
Não querer tornar-me no que era dantes.

José Blanc de Portugal




Comentários

Lindo poema, não conhecia este poeta.
Mas bela poesia.

Beijinhos
Este poema é do meu pai!
Foi bom encontrá-lo!
Gostaria de perguntar a Fernanda Rocha Mesquita de onde tirou o poema porque não o encontro na obra que possuo.
Muitíssimo obrigada por este seu gesto tão sensível e comovente para mim
Abraço
Ana Maria Blanc de Portugal