A crise- Eduardo Mesquita


Me entrego aos sons do deserto inatingivel,
à sede das searas alentejanas ressequidas,
ao monte de Abraão, às tábuas tingidas,
à luz estonteante de um arco iris invisivel.

Aos discursos poluidos, às terras prometidas,
às clericais retóricas de um evangelho de baixo nivel,
ao Iraque, que ficou agora um lugar mais credivel,
depois de se trocar uma estátua por milhares de vidas.

Me entrego, resistente, a um casamento legal,
em nome de uma democracia aberta e pluralista,
onde o importante foi fazer uma lei, a bem ou mal.

Me entrego aos tentáculos de uma crise populista,
aos senhores que nela veêm, a desculpa ideal.
Me entrego a este mundo, onde não há crise que desista...


Eduardo Mesquita.



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