Nos braços duma quimera
Converti-me em emigrante,
Ganhei a saudade austera
Que me abraça a cada instante.
Ao partir ao Deus dará,
A minha aldeia deixei
E ninguém hoje saberá
Quando eu lá voltarei.
Tendo o Céu como parceiro
Nesta minha grande empresa,
Sou um pobre mensageiro
Da cultura portuguesa.
Assim ando vagueando
Pelos trilhos que Deus quis,
Nesta vida caminhando
A clamar o meu país.
Sem juiz fui condenado
Como um dia o foi Jesus,
Sigo sempre carregado
Com o peso da minha cruz.
Como um ser que hoje tem
Um fado em cada esquina,
Não torno culpas a ninguém,
Esta é bem a minha sina.
Essa mesma que um dia
Me trocará a vida errante
Por uma grande alegria,
De não mais ser emigrante.
Comentários
A nostalgia deste poema contrasta com a esperança de um regresso definitivo.
Este é um tipo de vida que ninguém deseja em condições normais, mas fica pelo menos o inconformismo que faz com que se lute e reme contra a maré.
Eduardo.