Velha oliveira, ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti se me tornou hoje perceptível;
algo que eu não conhecia e me fez parar
na ténue sombra que teces no caminho;
algo que é uma doce corola de contacto.
Já os passos da luz se afastam na colina
e um rumor de pérolas quebradas
desce, lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves tuas amigas procuram na folhagem
a doçura acumulada nos favos da noite.
E também já são horas
de nós os homens, nós os que passamos,
suspendermos as cítaras do pensamento.
Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a entender uma bela mensagem:
a paz, ah a paz!, a rosa da paz.
É como se uma gota de azeite descesse,
brandamente descesse pelas coisas.
António Cabral
Comentários
Oliveiras, amiga...quanto elas me dizem!
Conheço algumas milenares, lá na aldeia.
Ontem, visitando "O Horto do Campo Grande" em Sintra, pasmei ao ver oliveiras muito, muito velhinhas...envasadas para venda,com os seus troncos rugosos, como diz o poeta...cheio de orificios, onde, creio eu, aves e outros animais se acoitaram dos frios e dos vendaváis.
Não conseguimos, eu e a minha irmã, não a afagar, não a acariciar.
Tambem ontem, no meu blogue falei de oliveiras e do seu precioso fruto, as azeitonas.
A minha infância está repleta de convívio com essas magnificas árvores.
Obrigada por esta partilhe, rica e tocante.
Gostei muito.
Vou levar o poema, posso?
Desejo-vos um lindo dia
Beijos para ambos
viviana
Vim informá-la que há no meu cantinho um presentinho para si.
Um beijo
viviana