Lá fora a neve cai tão suave e bela,
em cima de outra neve que ontem caiu,
é como o acordar de uma donzela,
que já ontem foi amada e não sentiu.
Como a neve, que assim cai e tudo gela,
num murmúrio que só o meu silêncio ouviu,
também ouço tudo, do nada, que me diz ela,
na frieza com que o passado a cobriu.
E do meu quarto vejo tudo tão branquinho,
numa alvura que os meus olhos fazem doer,
onde se já não vêem as marcas do caminho.
É como quando não consigo entender,
sempre que preciso de um teu carinho,
e os teus olhos, parecem deixar de me ver.
Eduardo Mesquita.
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"Lá fora a neve cai, e do meu quarto faz-me parecer que deixei de ver"