Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
Fernando Pessoa
Comentários
Simplesmente maravilhoso este poema de Pessoa...a Ana Moura gravou e está lindo.
Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora
Não conhecia.
Beijinho
É muito interessante este poema...
Li-o duas vezes, bem devagar,para recolher o sentimento do poeta.
Creio que o entendi...
principalmente nestas palavras:
"Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem."
Pobre poeta
Quanto sofria...
Obrigada pela partilha
Um abraço e um bom sábado
viviana
abraços