Insónia- Ary dos Santos


As noites — escorpiões suicidados
Com o seu próprio veneno nas entranhas
ressuscitam depois em madrugadas
cada vez mais azuis e mais estranhas.

São insónias tecendo alucinadas
uma teia de horas e de aranhas
patas tácteis peludas eriçadas
com o peso latente das montanhas.

E por dentro dos olhos um perfil 
de ferro e fogo deixa-nos queimados
selados como a chuva e como o vento.

Será possível que depois de Abril
ainda adormeçamos acordados
neste país-raiz de sofrimento?



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