"Penas da alma para a mão" 2006- Ana Bárbara de Santo António



"penas da alma para a mão" 2006

PREFÁCIO
“Sobre o Livro  "Penas da alma para a mão"
 “É um livro cheio de metáforas, onde jorra a força feminina aliada à vida das palavras. O elemento líquido, sob a forma de mar e de rio, invade muitos poemas e penetra nas palavras, fornecendo-lhe a seiva do amor e transformando o acto de escrita em êxtase. A marca feminina que caracteriza esta obra, através de alguns títulos, versos e mesmo pelas várias referências ao corpo e à vida da mulher, impõe-se como a verdadeira imagem do livro; aliás o título é todo ele no feminino. No entanto, há um poema que é um louvor à poesia e ao poeta, sem a reivindicação de sexo, o que reforça o gosto e a sua aceitação do/ no feminino, embora o eu confidencie que, por vezes, há um desajustamento com o tu e com os outros. O encarceramento da palavra até à sua libertação, traduzindo metaforicamente o percurso psíquico e mental do sujeito, é a trave-mestra desta poesia e o guião que apoia o leitor a interpretar as penas que a pena escreveu através da mão.”     

A Poesia, para além de um acto ontológico e de um processo de auto gnose, é essencialmente, um acto de coragem e de descompressão do espírito.
Escrever é, antes de mais, preencher as páginas vazias com o vazio da nossa alma, para a encher, deixar sair as penas da alma para a mão, através da escrita, é traduzir por palavras o que a voz muitas vezes silencia, são todos os pensamentos adormecidos nos confins secretos da mente iluminada pelo poder criador das palavras, à luz reveladora de uma espiritualidade emotiva, ruminada no mais profundo segredo da solidão. Ora, quem se dedica a esta difícil e sedutora tarefa de amanhar as tais palavras humedecidas, escorrendo sentidas da alma para a mão, é alguém que se distancia dos outros, pelo pensamento, mas conserva uma inabalável vontade de comunicar, dando-se pela escrita através da palavra.
Este livro “PENAS DA ALMA PARA A MÃO”, é o exemplo do mistério da Poesia e da vontade de revelação desse ocultismo pela desmistificação das palavras…nem sempre transparentes pela sombra que as envolve, tal a sombra que as “enformou”.
Apostando na essência e na transcendência, as penas da alma acabam por se comprometer num concluiu tal que servindo-se da mão, vão adensar o misticismo da obra, em vez de desdramatizar o significado da existência. A mão à procura, para além de um acto desesperado de encontrar alguém, transforma-se em revolta, desventura e cepticismo, para depois de escrever tudo o que lhe vai na alma, dar lugar à esperança e ao renascer, que só as palavras saídas do pensamento transcendente são capazes de renovar o desespero e o vazio gerado pela solidão, pela ausência de transparência dos sentidos, deixando contudo, surgir camuflada nas entrelinhas, uma força a indicar caminho e a mostrar que mais do que “sombra”, a alma é luz portadora de mensagens que só o poeta é capaz de ver e interpretar, dando-nos a conhecer essa via iniciática e sublime, em pedaços de memórias que cada poeta ao alinhavar as suas palavras, tenta recolher e reconstituir o seu Eu, usurpado da sua verdadeira identidade na sua forma mais simples e curta, acabando por ser um pronome com uma enorme responsabilidade nos nomes, dos outros e de si mesmo.
Portador de uma herança temporal e cognitiva, cada ser inscreve-se no Tempo Alma, desafiando-o nas várias direcções que as imagens vão pressionando e impelindo para a escrita e assim sendo, a palavra transforma-se numa arma de combate e num filtro de depuração de todas as penas sentenciadas pelo espírito no silêncio dos pensamentos. As impressões da alma resultam dessa vontade e de um querer que as lucubrações do espírito permitiram gravar…e o resto é produto da poesia.
Trata-se de uma espécie de enigma que se vai desfazendo pelo punho da mão e a alma acaba por suportar essa psicografia como auto-defesa da dor que as penas infligem no todo, pelos sentimentos silenciados por mágoas pessoais e intransmissíveis, dessa alma que não se quer calar, de todo esse inferno de sentidos, que quer parecer levar à morte.
Pela Poesia se ensina a viver e a procurar outras formas de vida…se não passássemos da busca das palavras, libertando as penas da alma pela mão, dando colo à escrita nestas páginas poéticas, certamente ficaríamos encarcerados num labirinto KafKiano, à espera…da morte. Mas a vida é o melhor dom de Deus!
“Penas Da Alma Para A Mão”…a interface do mistério da revelação.

Ana Bárbara de Santo António

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PREFÁCIO.............................................................................. Escrever é um acto de procura.................. .............. Este conjunto de poemas aponta para o percurso existente entre a organização das imagens que povoam a mente do sujeito e a decisão da escrita. A maior parte dos versos são testemunho dessa turbulência psíquica e da vontade expressa pelo sujeito em transformar essas imagens em palavras poéticas; assim, os poemas são partos da alma dados à luz através da mão. O título “Penas da Alma para a Mão” aponta, portanto, o caminho percorrido até ao nascimento da palavra; são poemas tecidos de dores “penas”, mas também expressão das ideias, fantasia, solidão e do amor vividos no eixo da temporalidade, num nicho de procura e de luz. De acordo com a alma feminina, a poesia é dotada de uma sensibilidade misteriosa, que remete para a expressão/contemplação do corpo e portadora de um espírito inquieto – balançando entre o cepticismo e a verdade, a dor e a alegria – o que revela que “o acto de dar à luz” nem sempre tenha sido fácil, apesar do encantamento subsequente. É um livro cheio de metáforas, onde jorra a força feminina aliada à vida das palavras. O elemento líquido, sob a forma de mar e de rio, invade muitos poemas e penetra nas palavras, fornecendo-lhe a seiva do amor e transformando o acto de escrita em êxtase. A marca feminina que caracteriza esta obra, através de alguns títulos, versos e mesmo pelas várias referências ao corpo e à vida da mulher, impõe-se como a verdadeira imagem do livro; aliás o título é todo ele no feminino. No entanto, há um poema que é um louvor à poesia e ao poeta, sem a reivindicação de sexo, o que reforça o gosto e a sua aceitação do/ no feminino, embora o eu confidencie que, por vezes, há um desajustamento com o tu e com os outros. O encarceramento da palavra até à sua libertação, traduzindo metaforicamente o percurso psíquico e mental do sujeito, é a trave-mestra desta poesia e o guião que apoia o leitor a interpretar as penas que a pena escreveu através da mão. O fechamento e a concentração de todas as dores e perplexidades no eu tornam o sujeito mais vulnerável e a assumir a poesia como uma revelação das forças que recaem sobre si, dotando a poesia de grande intimismo e simultaneamente de mistério. Apercebem-se momentos de luta interior, de crença e descrença, uma espécie de batalha entre Deus e o Diabo visível em “Morada aberta “, uma vontade de expurgar o mal proveniente do inferno dos sentidos para recuperar a paz e restabelecer a lucidez das palavras. Há versos de tal melancolia que nos transportam para além da morte, uma espécie de saudade metafísica e uma necessidade de renascer, pois o sujeito identifica-se como uma “sombra". Versos que afirmam uma vontade de ser outro; de ser diferente “do que poderia ter sido”. Mas esta saudade está também expressa em lugares concretos ligados a um tempo que já foi – o da infância – e ao Porto. Esse tempo de menina que ficou para sempre gravado... Não se pode fechar este livro sem olhar as imagens que o ilustram e seleccionadas pela própria autora, pois elas resultam de um entrosamento perfeito entre a mensagem dos poemas e a imagem e que a leitura inter artística ajuda a compreender “tela da alma”. No fundo, o livro é essa vontade de pintar a vida que, parafraseando o sujeito, ficou a preto e branco. Os versos são esboços e a poesia ainda deixa escorrer algum sangue. Quem conhece a Ana Conceição Bernardo não consegue ler somente as palavras, ela está nas palavras, o que causa algum embaraço a quem procura distanciar-se. O pseudónimo Ana Bárbara de Santo António resulta da sua crença nos poderes dos santos, bem visível ao longo da obra. Santa Bárbara como protectora das tempestades e aflições e Santo António o mestre da palavra, o pregador, o homem do sermão aos peixes, aquele que falou para as águas de um rio. Agora, falta a leitura silenciosa destes versos para ajudar a compreender o que intencionalmente ficou por dizer; para descobrir o que lhe pertence e está ao alcance da sua mão. Curiosamente, tendo o ser humano duas mãos, é a mão no feminino e no singular que produz a palavra já contaminada pela vontade do sujeito; a mão que ajuda a Ser. E quantos poemas serão “uma forma inventada/de um sofrimento sem nome?” ................. .......................................................................................................... Júlia Serra......................................... (Professora do Ensino Secundário e Critica Literária)

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