"penas da alma para a mão" 2006
PREFÁCIO
“Sobre
o Livro "Penas da alma para a
mão"
“É um livro cheio de metáforas, onde jorra a
força feminina aliada à vida das palavras. O elemento líquido, sob a forma de
mar e de rio, invade muitos poemas e penetra nas palavras, fornecendo-lhe a
seiva do amor e transformando o acto de escrita em êxtase. A marca feminina que
caracteriza esta obra, através de alguns títulos, versos e mesmo pelas várias
referências ao corpo e à vida da mulher, impõe-se como a verdadeira imagem do
livro; aliás o título é todo ele no feminino. No entanto, há um poema que é um
louvor à poesia e ao poeta, sem a reivindicação de sexo, o que reforça o gosto
e a sua aceitação do/ no feminino, embora o eu confidencie que, por vezes, há
um desajustamento com o tu e com os outros. O encarceramento da palavra até à
sua libertação, traduzindo metaforicamente o percurso psíquico e mental do
sujeito, é a trave-mestra desta poesia e o guião que apoia o leitor a
interpretar as penas que a pena escreveu através da mão.”
A
Poesia, para além de um acto ontológico e de um processo de auto gnose, é
essencialmente, um acto de coragem e de descompressão do espírito.
Escrever
é, antes de mais, preencher as páginas vazias com o vazio da nossa alma, para a
encher, deixar sair as penas da alma para a mão, através da escrita, é traduzir
por palavras o que a voz muitas vezes silencia, são todos os pensamentos
adormecidos nos confins secretos da mente iluminada pelo poder criador das
palavras, à luz reveladora de uma espiritualidade emotiva, ruminada no mais
profundo segredo da solidão. Ora, quem se dedica a esta difícil e sedutora
tarefa de amanhar as tais palavras humedecidas, escorrendo sentidas da alma
para a mão, é alguém que se distancia dos outros, pelo pensamento, mas conserva
uma inabalável vontade de comunicar, dando-se pela escrita através da palavra.
Este
livro “PENAS DA ALMA PARA A MÃO”, é o exemplo do mistério da Poesia e da
vontade de revelação desse ocultismo pela desmistificação das palavras…nem
sempre transparentes pela sombra que as envolve, tal a sombra que as
“enformou”.
Apostando
na essência e na transcendência, as penas da alma acabam por se comprometer num
concluiu tal que servindo-se da mão, vão adensar o misticismo da obra, em vez
de desdramatizar o significado da existência. A mão à procura, para além de um
acto desesperado de encontrar alguém, transforma-se em revolta, desventura e
cepticismo, para depois de escrever tudo o que lhe vai na alma, dar lugar à
esperança e ao renascer, que só as palavras saídas do pensamento transcendente
são capazes de renovar o desespero e o vazio gerado pela solidão, pela ausência
de transparência dos sentidos, deixando contudo, surgir camuflada nas
entrelinhas, uma força a indicar caminho e a mostrar que mais do que “sombra”,
a alma é luz portadora de mensagens que só o poeta é capaz de ver e
interpretar, dando-nos a conhecer essa via iniciática e sublime, em pedaços de
memórias que cada poeta ao alinhavar as suas palavras, tenta recolher e
reconstituir o seu Eu, usurpado da sua verdadeira identidade na sua forma mais
simples e curta, acabando por ser um pronome com uma enorme responsabilidade
nos nomes, dos outros e de si mesmo.
Portador
de uma herança temporal e cognitiva, cada ser inscreve-se no Tempo Alma,
desafiando-o nas várias direcções que as imagens vão pressionando e impelindo
para a escrita e assim sendo, a palavra transforma-se numa arma de combate e
num filtro de depuração de todas as penas sentenciadas pelo espírito no
silêncio dos pensamentos. As impressões da alma resultam dessa vontade e de um
querer que as lucubrações do espírito permitiram gravar…e o resto é produto da
poesia.
Trata-se
de uma espécie de enigma que se vai desfazendo pelo punho da mão e a alma acaba
por suportar essa psicografia como auto-defesa da dor que as penas infligem no
todo, pelos sentimentos silenciados por mágoas pessoais e intransmissíveis,
dessa alma que não se quer calar, de todo esse inferno de sentidos, que quer
parecer levar à morte.
Pela
Poesia se ensina a viver e a procurar outras formas de vida…se não passássemos
da busca das palavras, libertando as penas da alma pela mão, dando colo à
escrita nestas páginas poéticas, certamente ficaríamos encarcerados num
labirinto KafKiano, à espera…da morte. Mas a vida é o melhor dom de Deus!
“Penas
Da Alma Para A Mão”…a interface do mistério da revelação.
Ana
Bárbara de Santo António
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