Aqui, neste lago
de águas calmas e profundas
deito-me no barco da vida,
pousando a cabeça,
sôfrega e perdida,
sobre um manto sereno
de ternas recordações
que me aquecem a alma
na noite mais calma
e enlouquecem o desejo,
enchendo-o de emoções
que sinto e prevejo
(ou não fosse um desejo)
permanecerem, secretamente
guardadas em nossos
corações!...
Recordo dois corpos
pegados, enrolados
na noite, ao luar
na praia perdidos
ao longe, esquecidos
colados na areia
que se solta e branqueia
na espuma do mar,
e se viram para norte
procurando a sorte
que os quis encontrar
e, revoltos, se abraçam,
se beijam e entrelaçam
e, entre promessas ditas,
algumas prescritas,
se voltam a abraçar!...
Lembro o silêncio
que partia de nós
naqueles momentos
em que, estando a sós,
juntávamos as bocas
a uma só voz
e gritávamos calados
perdidos e achados
pelo tempo que fluía,
arrebatando ao vento
o sibilar do momento
que em nossas almas corria
deixando cair,
sobre chamas de amor,
o eterno sentir
de gostar com fervor!...
Aqui, neste lago
de águas calmas e profundas
procuro inventar
um espaço para amar
e, de um jeito risonho,
pescar o meu sonho
sem dele acordar,
olhando a cabana
que, ao longe, me chama
e me lembra momentos
que não quero esquecer
nem da alma perder,
por tão perto ficarem
deste peito adormecido
e na memória morarem
no tempo, perdidos,
desejava para sempre
(enquanto formos gente)
senti-los, pelo amanhecer
vivê-los, ao entardecer
e, mais tarde, se pudesse
com eles morrer!...
Mário Filipe Neves
2015-01-19
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