Inverno no coração- Mário Neves





Já me levantei há um tempo
mas este não muda de olhar…
Cinzento, cinzento, cinzento
cor da chuva, cor do vento,
mais o frio e o desalento
que no meu peito se querem alojar.
Olho em frente, e de lado,
olho à volta deste silêncio,
procuro encontrar um pedaço
de algo, de tudo, de nada.
Será que é de ti
que ando à procura?...
Fecho os olhos, por momentos,
desço ao peito, devagar,
cerro os lábios, uno os dedos
e deixo-me, enfim, levar…
Vejo luz, pouca luz,
talvez duas velas de olhar
uma sala, pouco espaço,
só dois seres a vão ocupar.
Um piano, branco de neve,
ao qual uma viola vou encostar.
Vejo o sol, quente e louco,
de uma lareira acesa brotar,
vejo estrelas, milhares delas,
saindo do céu do teu olhar!...
Sinto o teu corpo e o meu
numa dança de encantar,
vejo o meu corpo, no teu
até uma trança formar!
Oiço gritos, surdos, loucos
que se calam, a pouco e pouco,
à medida do meu despertar…
Foi um sonho? Um desejo?
Ou terá sido um simples pensar?...
Se o futuro eu não prevejo
porque me deixei eu embalar?
Ou será que algo…vai começar?




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