Senhor! Veja como vamos sós, pelos caminhos,
pelas ruas, nas casas, nos empregos, nos carros.
A solidão é profunda e amarga, dolorida e falaz.
Vem com as sombras, aumenta na escuridão,
sufoca nas madrugadas,
quando a alma parece exilar.
De quem os surdos soluços?
Da alma que se vai,
triste melodia do coração que chora?
A vida é tão breve, Senhor,
os homens tão insensatos, tão mal informados.
Os passos se desencontram,
as mãos não se acasalam,
separam-se lábios que nunca se juntaram.
A névoa envolve a cidade.
É a bruma dos sonhos desfeitos,
das desilusões, dos amores prematuramente mortos,
mal nascidos?
A solidão machuca, Senhor!
É tão amargo, Senhor,
braços feitos para o nada,
mãos que acariciam o vazio,
palavras perdidas de ternura estéril.
A solidão gera a angústia, Senhor.
E com ela o estômago preso,
a garganta seca,
o grito estrangulado.
A solidão dói, Senhor!
E o Homem não aprende.
Tudo é tão simples,
lógico, certo, seqüente.
Ensinam as flores, os pássaros,
as plantas, os animais.
Mas ELE procura, titubeia esmiúça,
tenta, compara, vacila
idealiza, regride, volta, reincide.
Mostre-nos portas e caminhos, Senhor!
Dê-nos alento na procura.
Não permita que sonhemos
só com o inatingível.
Deixe-nos ver o fruto mais próximo,
sentir seu gosto,
não partir atrás de árvores estranhas,
de copas tão altas.
Tire de nossos sentidos perfumes jamais sentidos,
o doce tato de peles nunca tocadas,
a imagem de olhos
que só vivem de afagos.
A vida é áspera, Senhor!
O caminho é duro e árido.
E nós, os SOLITÁRIOS, somos tantos...
Peço-lhe por mim, por ele, por ela, por todos:
Trance nossas estradas, Senhor,
abrande os corações crespos de sofrimento,
rasgue sorrisos nos lábios crestados de amargura
umedeça os olhos secos de lágrimas,
dirija nossos passos para o ENCONTRO.
Faça que nossas mãos, em mágica,
aprendam a se unirem palma a palma,
para que conversem, se entendam se amem,
e com elas, os corpos, as almas.
A SOLIDÃO é cruel, Senhor!
Livre-nos dela.
Ely Vieitez Lisboa
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