AUSÊNCIAS -Célia Moura

AUSÊNCIAS


Sinto o sabor do meu sangue,
Nos lábios.

Dói-me, porém delicia-me,
Esta adaga,
Estas chicoteadas ferozes de vento quente
Na pele.

Rasgo-me por inteira,
Como quem perde um filho!

A Dor maior da existência humana toda em mim!
Que se faça silêncio, por favor!
Honremos todas as mães!

Já nem choque, pranto, riso ou convulsão,
Nem qualquer metamorfose sagrada!
Calemo-nos então!

Já não há nada!

O sabor do meu sangue,
Permanece-me nos lábios,
E nos olhos duas chagas flamejantes,
Em restauro de agonia,
Ou flor,
Ou lilás,
Ou somente a agreste tortura
De já nem saber amar!

Tento expulsar-me,
Expulsando-te,
Mas a angústia reclama mais rasgos de pele,
Mais ausências plenas!

Que exorcismo me poderá libertar?…
Que magistral exorcismo nos poderá libertar?

Hoje,
Em meu banquete,
Rodopiam como loucas mariposas,
As palavras, as perdas, o clamor do sangue,
E este temor súbito de ter aqui todas as palavras,
Todas serem escassas,
Para me poderem suportar!

Dos meus lábios está acesa uma fogueira.

© Célia Moura, in “Enquanto Sangram As Rosas…” 04/05/2011






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