VERDADES ETERNAS- Ely Vieitez Lisboa


Os ditados populares são, em geral, verdades irrefutáveis. Mensagens passadas entre gerações, povos, nações, desde tempos imemoriais. De origem quase sempre duvidosa, alguns vêm da Bíblia, outros de costumes, hábitos. O conhecido axioma Vox populi, vox Dei, por exemplo, apesar de usado desde os tempos da gloriosa Roma, deve ser questionado. Ao contrário, quando o povo afirma algo, como se fosse uma cláusula pétrea, é preciso ter muito cuidado. Quando ele vota, escolhe, opta ou se reúne para resolver um problema, a chamada vontade popular é perigosa. É um monstro acéfalo, uma avalanche desgovernada.
Há, no entanto, anexins pitorescos e como quase sempre, em linguagem figurada, o que os torna semanticamente muito ricos. Cite-se o dito “A fruta proibida é a mais apetecida”. A temática da predileção humana que quer sempre o fruto mais longínquo e impossível já foi muito explorada pelos poetas. Há outros que são mais filosóficos, como “A grandes males, grandes remédios”. Em uma interpretação livre, diante da situação política grave do momento, no Brasil, para grandes desgraças, só medidas impactantes, soluções concretas e não sofismas de políticos corruptos, jogos de interesses, ou manifestações nas ruas, aos milhares, berrando tolices, ou com cartazes grosseiros e pejorativos. Tudo isso não leva a nada, são placebos e não verdadeiros antídotos. 
Ora, grandes músicos usaram tais aforismos para letras de musicas famosíssimas, como mestre Ataulfo Alves (“Laranja Madura”), ou Paulinho da Viola, em “Dinheiro na mão é vendaval”. Há críticas sociais, muito filosóficas: “A pior roda é a que mais chia”; “Amigo remendado, café requentado”; “Defunto rico, defunto chorado”; “Em casa de enforcado, não fales em forca”; “Errar é humano, persistir no erro é burrice”; “Grande gabador, pequeno fazedor”; “Leite de vaca não mata bezerro”; “Mais fácil acender uma vela que amaldiçoar a escuridão”; “Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera”; “Quem quer a rosa, aguente o espinho”. 
Às vezes a assertiva é discutível, como o determinismo em “Filho de onça já nasce pintado”, ou “Quem é bom já nasce feito”. Em compensação, há muita sabedoria na afirmação: “Cabeça vazia, oficina do Diabo”. Nada faz o vício grassar tanto, como o ócio. Há uma série de provérbios sobre o tema maior, a Morte. São mensagens concentradas como um twitter metafísico: “Hora de morrer não tem retardo”. 
Poder-se-ia escrever um texto sobre o adágio acima. A Morte, com sua ausência de aviso prévio e inexorabilidade, sempre fascinou os homens. Pode-se aprender com o povo. Há lições ricas, mas o Homem sempre foi um péssimo aprendiz. O mesmo acontece com prováveis bons conselhos, que raras vezes são seguidos, a ponto de se afirmar que conselho é para não seguir, ou agir ao contrário. 
Na realidade, quem tem razão é o Poeta, que afirma que o caminho se faz caminhando. Ou: A experiência é ao portador. Qualquer orientação, mapa, bússola ou Manual de Instrução sobre a Vida é tempo perdido, palavras ao vento, porque é o Herói de sua própria história que amanha a terra, semeia e colhe. E ele já foi avisado desde tempos pretéritos: A seara é seu prêmio ou castigo.



 Ely Vieitez Lisboa




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