Eu sou eu. Íntegro e inviolável dentro
de mim mesmo.
O que não se descobre. Anónimo sob
minha própria espinha.
Atual em minha sombra incorpórea, sem
faltar um só de meus gestos físicos.
Eu sou eu. O fantasma de preto escanchado
no arame do quintal,
sob a sombra das árvores e sob a
sombra da lua
misteriosamente colhendo o silêncio com
as mãos invisíveis e
tecendo uma mortalha com o nó dos dedos
para vestir o próprio corpo.
Eu sou eu. O retraio destituído de vida.
O gesto estático.
O que está no limiar e afogado no abismo.
O que anda vestido e nu, sendo louco e poeta.
Eu sou eu e sozinho. Diverso sobre mim
e sob eu mesmo.
Oculto e visível como a lua caída no poço.
Proclamado como o homem dentro da praça,
no meeting,
sacudindo com os gestos da boca palavras
secas nos olhos da multidão.
Intocável e impossível como o que não se
conhece e não morre.
José Alcides Pinto
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