Quem és tu adamastor dos meus sonhos,
que teimas em lançar corpos naufragados,
em vagas de desespero, para este mundo?
Esse teu riso jucundo, de esgares medonhos,
são ecos do choro de migrantes angustiados,
rostos salgados, à deriva no mar furibundo.
Proféticas máscaras, apocalíptica premonição!
Quem viu os ventos das ameaças prescritas,
no sopro das bombas nos invernos violentos?
Quem sentiu o calor da guerra na gestação
dos frios cinzentos das primaveras malditas?
Máscaras de horror, presságios agoirentos.
Crianças tombadas, anjos de asas caídas!
Na própria tristeza das almas devassadas,
duas lágrimas escorridas caíram estarrecidas.
Brilham de dor, sobre causas desvanecidas.
Diáfano pecado, testemunhas derramadas,
dos corpos prostrados, das vidas perdidas.
Utópicas máscaras! Sois trevas e desilusão,
silêncio que conjuga o verbo com maestria,
culto da demagogia, monstro da escuridão.
Deixa-me! Adamastor das máscaras e da ilusão,
leva a idolatria do discurso que oculta a egolatria.
Sinto-me tão só, na indiferença da multidão.
NOTA: Poema dedicado aos refugiados que abandonam os seus lares por força da guerra e da opressão.
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