Surges
Na cálida brisa da tarde,
Como Deusa
No cume da trave talhada
A ouro
Com rosto de prata,
Boca de serpente mansa,
Vestindo de fogo
O sexo.
És a mulher,
A prostituta doce
Dos seios firmes,
Da madrugada,
Dos vãos de escada…
Serpenteias em rituais loucos
Sob a máscara de cristal
Estilhaçada,
Chupando o sangue
Às rosas inventadas
Do Jardim.
Quem sabe se não serás a Musa,
Por quem os poetas clamam,
Ou o flagelo dos dias
E dos rostos baços?
Agora,
És somente
A Afrodite dos tempos
E do desalento.
Da carne!
Mulher ,
Mito ausente
Na verdade e no ventre
Cuspindo a semente da raiva
Ao vento norte.
Mulher saudade,
Saudosa do regresso,
Dos hinos ao Sol,
Dos campos férteis do acaso,
E da Festa
Que as crianças sábias comemoram
No hálito das estrelas.
Terás talvez
Que encarnar a inocência
Na face uterina da noite,
Quando a voz estrangulada
Já não soar a grito,
Num pedestal de pó descarnado…
Uma sombra descerá
Com rosto brando
De anjo,
Sob a pia baptismal
Te despirá!
© Célia Moura, in “Vestida De Silêncio” 06/11/2011
(Stefan Beutler Photography)
Se este poema não estivesse assinado por mim, poderia ser um dos meus eleitos, mas como lamentavelmente ou não, fui eu que o assinei porque o escrevei, tropeço-me neste meu ser, neste meu sentir.
C.M.
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