Sol poente – coração de gládios trespassado...
Ó luz do entardecer, ó Senhora das Dores!
Esconde-nos, ó mãe! O coração magoado
N´um manto virginal de mortos esplendores.
Salve-Rainha, mãe d´infinita doçura!
Do azul onde agoniza a nossa alma sem norte
Lança o místico olhar de luz e d´amargura
Sobre a eterna Injustiça, e a prodridão da morte.
A ti brindamos,nós, degradados do mundo
Envolve-nos, Senhora! em teu manto sereno...
A terra é trist, e o céu tão distante e profundo
É ruivo e flavo como o doce Nazareno.
Toda em sangue ressurge a tragédia divina!...
Ó Jesus, ó Jesus! Erram já pelos céus
Sobre a tua nudez purpurada e franzina
Trevas e sombra – a dor e a maldição de Deus.
A noite vem descendo, e os seus vagos terrores...
Esconde-nos, ó luz! n´um manto d´oiro e rosa,
Ó luz de entardecer, ó Senhora das Dores,
Ó clemente, ó piedosa, ó dolorosa!
Alberto Osório de Castro
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