Na revista Ponto & Vírgula Março-Abril, Edição n.26
Há alguns anos, resolvi cancelar minhas assinaturas da Vogue e Elle. Quando comentei com alguns colegas de trabalho, dois acharam um absurdo alguém que trabalhasse com moda, não assinar nenhuma revista da área.
“Como você vai fazer se precisar falar sobre isso com algum cliente?”
Não sabia como faria e não achava um absurdo. Sabia que estava cansada de ler sempre as mesmas coisas, as mesmas páginas. Estava cansada, entediada.
Na época, o Instagram ainda não havia sido lançado e o Pinterest era apenas um bebê (que eu não sabia muito bem como lidar). O Google foi o meu guru na busca de novas maneiras de “descobrir moda”. Comecei a buscar e entender melhor o mundo das blogueiras de moda. Fiquei viciada em acompanhar os blog das francesas Betty Autier e Alix. Acessava o The Sartorialist e o The Cool Hunter todos os dias. Só que assim como as revistas, após saber de cor e salteado todas as páginas e looks postados, eu havia cansado… de novo.
Cansado das revistas, dos blogs, dos vídeos no YouTube, de saber quais eram as tendências.
Nessa época, eu gastava praticamente todo o meu salário com roupas. E roupas que, no fundo, eu nem queria. Mas “lá fora” todo mundo estava usando. E o sentimento de orgulho que eu sentia, quando meus colegas de trabalho me elogiavam, aos poucos, foi virando um sentimento de cobrança. Eu precisava ir bem vestida. E isso significava usar algo parecido com o que havia sido visto na semana de moda de Paris.
Com meu salário sendo gasto em roupas e não sobrando dinheiro para as viagens que eu gostaria de fazer, percebi que precisava mudar algo na minha vida. Resolvi que queria me afastar da moda. Já não estava mais feliz no trabalho. Não queria mais ouvir falar sobre moda e muito menos queria trabalhar com isso. Queria sumir da capital e voltar para a minha vida, no interior, para trabalhar com qualquer outra coisa.
Depois de meses pensando o que faria, percebi que caso o fizesse, estaria fugindo; fugindo de mim. Deixar de trabalhar com moda, seria deixar uma parte de mim ir. Ela estava em mim e eu ainda não estava disposta a me deixar ir embora. Fiquei. Entendi que o problema não era a moda em si, o problema era o que eu havia me tornado, trabalhando e respirando moda.
Havia me tornado alguém fútil e egoísta. Alguém que não se importava com a maneira que a roupa que eu vestia havia sido feita. Eu não pensava no consumo consciente. Eu pensava no consumo com a ciência de que eu precisava daquela peça para ser notada. Não pensava por mim, usava ideia prontas que havia em algum blog ou site, através de opiniões alheias.
Precisei buscar no fundo de mim, quem eu era quando comecei a trabalhar com moda, e arramar uma cordinha nesse meu eu-de-antes ao meu eu-de-então para que eles não se perdessem novamente. Comecei aos poucos, a deixar de comprar roupas todos os meses. Aos poucos, fui reinventando a maneira que eu via moda, fui me tornando mais consciente. Não só no consumo, mas no meu trabalho.
Quando finalmente deixei de trabalhar com moda, percebi que dessa vez, não estava fugindo dela. Não havia deixado de trabalhar com moda porque queria fugir. A moda ainda estava em mim. Está em mim.
Eu a encontro todos os dias, pela ruas, vestindo desconhecidos. Ela está ali naquele quadro pendurado no café, na revista vendida no supermercado ou no pôster dentro do metrô que anuncia uma nova exposição.
Hoje, depois de tanto tempo sem assinar revistas de moda, sinto que mais do que saber o que está na moda, eu a entendo. E isso, para mim, se tornou infinitamente mais importante do que qualquer página com o “must have” da estação.
Aline Cláudio
“Como você vai fazer se precisar falar sobre isso com algum cliente?”
Não sabia como faria e não achava um absurdo. Sabia que estava cansada de ler sempre as mesmas coisas, as mesmas páginas. Estava cansada, entediada.
Na época, o Instagram ainda não havia sido lançado e o Pinterest era apenas um bebê (que eu não sabia muito bem como lidar). O Google foi o meu guru na busca de novas maneiras de “descobrir moda”. Comecei a buscar e entender melhor o mundo das blogueiras de moda. Fiquei viciada em acompanhar os blog das francesas Betty Autier e Alix. Acessava o The Sartorialist e o The Cool Hunter todos os dias. Só que assim como as revistas, após saber de cor e salteado todas as páginas e looks postados, eu havia cansado… de novo.
Cansado das revistas, dos blogs, dos vídeos no YouTube, de saber quais eram as tendências.
Nessa época, eu gastava praticamente todo o meu salário com roupas. E roupas que, no fundo, eu nem queria. Mas “lá fora” todo mundo estava usando. E o sentimento de orgulho que eu sentia, quando meus colegas de trabalho me elogiavam, aos poucos, foi virando um sentimento de cobrança. Eu precisava ir bem vestida. E isso significava usar algo parecido com o que havia sido visto na semana de moda de Paris.
Com meu salário sendo gasto em roupas e não sobrando dinheiro para as viagens que eu gostaria de fazer, percebi que precisava mudar algo na minha vida. Resolvi que queria me afastar da moda. Já não estava mais feliz no trabalho. Não queria mais ouvir falar sobre moda e muito menos queria trabalhar com isso. Queria sumir da capital e voltar para a minha vida, no interior, para trabalhar com qualquer outra coisa.
Depois de meses pensando o que faria, percebi que caso o fizesse, estaria fugindo; fugindo de mim. Deixar de trabalhar com moda, seria deixar uma parte de mim ir. Ela estava em mim e eu ainda não estava disposta a me deixar ir embora. Fiquei. Entendi que o problema não era a moda em si, o problema era o que eu havia me tornado, trabalhando e respirando moda.
Havia me tornado alguém fútil e egoísta. Alguém que não se importava com a maneira que a roupa que eu vestia havia sido feita. Eu não pensava no consumo consciente. Eu pensava no consumo com a ciência de que eu precisava daquela peça para ser notada. Não pensava por mim, usava ideia prontas que havia em algum blog ou site, através de opiniões alheias.
Precisei buscar no fundo de mim, quem eu era quando comecei a trabalhar com moda, e arramar uma cordinha nesse meu eu-de-antes ao meu eu-de-então para que eles não se perdessem novamente. Comecei aos poucos, a deixar de comprar roupas todos os meses. Aos poucos, fui reinventando a maneira que eu via moda, fui me tornando mais consciente. Não só no consumo, mas no meu trabalho.
Quando finalmente deixei de trabalhar com moda, percebi que dessa vez, não estava fugindo dela. Não havia deixado de trabalhar com moda porque queria fugir. A moda ainda estava em mim. Está em mim.
Eu a encontro todos os dias, pela ruas, vestindo desconhecidos. Ela está ali naquele quadro pendurado no café, na revista vendida no supermercado ou no pôster dentro do metrô que anuncia uma nova exposição.
Hoje, depois de tanto tempo sem assinar revistas de moda, sinto que mais do que saber o que está na moda, eu a entendo. E isso, para mim, se tornou infinitamente mais importante do que qualquer página com o “must have” da estação.
Aline Cláudio
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