“Ordem é clareza. Ordem é harmonia. Ordem é método e celeridade. Ordem é a razão do direito”.
RUI BARBOSA
Há 44 anos exerço a advocacia, e, sob as regras acima: ou seja, nada próximo à poesia, ao poema, à liberdade criadora incomensurável dos autores. Menos ainda com qualquer vizinhança à desordem/ordenada/harmônica das obras literárias.
Justifico assim a desafinação do prefácio com o ritmo, a cor e o som, a beleza das peças todas que compõe a antologia.
Advocacia significa “falar por outro”, e, prefácio “o ato de falar antes” ou “introdução”. Aqui, fora do território técnico, quase árido do ato de advogar, me vejo obrigado a FALAR POR MIM (e não por outrem) e, mais difícil ainda, FALAR ANTES.
Fica a esperança de que a sede do leitor, em chegar às poesias, passe só rapidamente pelo prefácio, ou melhor ainda, que o ignore.
Septuagenário, desde o primário, depois o secundário e o colegial, sempre em escolas públicas, aprendi ( e me tornei apaixonado) a ler poesias, passando dos sonetos às obras maiores. Encantavam-me, sobremaneira, a conjugação simbiótica da forma, com rimas as mais ricas e o conteúdo musculoso de mensagens. Olavo Bilac, Castro Alves, Camões, Gonçalves Dias, e tantos outros.
Foi difícil, pois, aceitar a poesia moderna. As mudanças sempre incomodam, e, as primeiras impressões repercutiam como se o autor fosse incapaz de hospedar a sua mensagem poética na difícil forma da métrica, da rima, do ritmo. No último ano do colegial, em 1959, em São Paulo, o novo professor de português, muito jovem, recém saído da Faculdade de Ciências e Letras da USP, adentrou a sala, subiu na cadeira e, após um educado pedir de silêncio, declamou NEGA FULÔ.
Aí, a partir de então, me foi possível enxergar a beleza da poesia sem grilhões, mas, enormemente rica de emoção, de mensagens, de íntimo de quem escreve se esfregando no corpo e na alma do leitor.
Foi a chave que me permitiu amar cada um dos textos da antologia prefaciada e visitar, sem preconceitos, com todas as janelas sensoriais abertas, as poesias que a compõe. “O amor, em nós, foi mais forte! Suplantou a dor”; “Versejo, logo existo”; “Escrevo para ser feliz”; “Foi correndo contra o tempo que cheguei sempre atrasado”; “Quantas desilusões são mais do que temos?”; “Louvo a Poesia – ensinou-me que a ausência não enfraquece o Afeto”; “Tenho olhos pequenos que veem o mundo Grande”; “E se houver chuva, que seja torrencial”; “Sou o que sou”;”A vida se desenrolando na ponta de um lápis”;”Na tua boca há carícias de mensagens”;”amei-o porque o amava”; “Ah, se eu pudesse escolher as pessoas”;”Sussurro ao vento os meus sonhos!”; “Dois amantes em cena”; “Obrigada, Pai, pelo pão da Poesia”; “E assim, seu destino na canção se fez”; “Sabe? Quero convidá-la para um sonho”; “Os bois, mugindo conversas de gente”; “Com magia,voa livre a poesia”; “o vento a soprar o aroma do mar”; “Eu te amo amor”; “Desvendou o mar dos sentimentos”; “E a Noite, jovem morena e medrosa”; “Eu o amo o mar, que inspira poeta”; “com guache a pintura do amém”; “Cada noite, à minha cabeceira, descansa o meu desejo”.
Não elenquei os títulos e sequer referi o rol dos autores. Preferi, pinçar no oceano de belezas que li, uma e outra oração, declarando assim que ao abrir a 1ª folha o leitor conhecerá a maior fortuna de Ribeirão Preto: a poesia doce/forte, mansa/agressiva, mas, a poesia com P maiúsculo!
Brasil PP Salomão – apenas um advogado
Prefácio de Dr. Brasil Salomão para a Primeira Antologia "Ponto & Vírgula" -
Editora: PerSe/2012 -
Coordenação: Irene Coimbra
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