A HISTÓRIA DE ROD (*) Ely Vieitez Lisboa


Parafraseando Drummond: “Quando eu nasci, um Anjo torto, desses que vivem nas sombras, disse: Vai, Rod, ser gauche na vida”. A tradução do galicismo “gauche” é rica; pode ser então, “sofrido”. Mas como na história do Mago de Itabira, falando de si próprio, o que o Anjo predestinou, na verdade foi: “Vai ser grande, glorioso, o maior poeta brasileiro”. Assim aconteceu também, até hoje, com o nosso Rod: Rod, o lutador, Rod, o compreensivo, Rod, o herói.
Quando ficou doente, com doença grave, o menino não se abateu; é que ninguém sabia ainda que o nosso Rod era especial, um vencedor de etapas terríveis. Seu pai, poeta, e sua mãe, musa linda, ambos muito sensíveis, tiveram que aprender com a dor. Descobriram que tinham um filho especial, forte e corajoso, que já dava lições, desde muito jovem, de compreensão, da arte de superar. Fonte de amor e de fé. 
E Rod cresceu, tornou-se um jovem belo como um príncipe e com uma alma sem igual, iluminada por bondade e dons vários, como a compreensão e a aceitação. 
Foi aí que seu pai, também muito especial, um Quixote perito em enfrentar os mais perigosos moinhos de vento, teve uma ideia brilhante: escrever um livro em versos, sobre Rod. A personagem central merecia tal lirismo. Convidou então o Mago da Literatura Infantil, Alexandre Azevedo, para escreverem o livro juntos e veio à luz “O Menino de Um Braço Só”, ilustrado linda e sugestivamente por Renato Andrade, ilustrador e chargista. O Prólogo é da insigne Doutora em Letras, Vera Lúcia Hanna, que, juntamente com Antônio Carlos Tórtoro e Rod, são educadores no Colégio Anchieta.
O livro de quadras bem ritmadas, narra a história de um herói, Rod, que fazia tudo com o braço direito; descreve seu dia a dia, seus hábitos pessoais, usando sempre a mão direita, “ferramenta” eficaz de todo destro. Realça tanto o fato, que a mão esquerda acaba ficando infeliz. Genial, personificar a mão esquerda, quase sem utilidade, com sua “vidinha vazia” ...E O braço direito, forte, útil e eficaz, tudo fazia, a ponto da mão esquerda sentir ciúmes da direita, principalmente quando ela passava perfume, usado conotativamente como tudo que é belo, suave e excelso.
Seriam Anjos ou Musas literárias que inspiraram o grande contador de histórias, Alexandre Azevedo, a transformar em mistério lírico o ponto alto da tragédia? “Mas, num estranho dia, / O inesperado aconteceu: / O braço direito do Rodrigo / Simplesmente desapareceu!”.
E a magia do livro continuou: toda a tristeza da realidade transformou-se em fábula de grandeza e superação. O Braço Esquerdo, personagem secundária, aprendeu tudo que não sabia: escovar dentes, comer, abrir torneiras, escrever! Ganhou ajudantes, a boca, os dentes, até os pés, movido por uma força interior: “Tudo eu consigo!”. Na página 21, há uma lição metafórica de união: na estrofe final, o perfume alteia-se também em lição de fraternidade.
O livro O Menino de Um Braço Só é uma obra mágica. Só assim se explica o que ele provocou nos pequenos leitores, no seu lançamento: alegria, fraternidade, encantamento. Ninguém ficou triste diante de história tão trágica. Só existe uma explicação: o carisma de Rod, com sua história forte e terrível, transformada em alegria positiva. Como explicar o mistério? 
Aqui fica apenas uma hipótese: a coragem, o espírito iluminado de Rod e a magia dos dois autores e do ilustrador.

Ely Vieitez Lisboa

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