Uma foto que deu origem a um pequeno texto. Apenas um olá muito especial à Tina Halberg, uma boa amiga e uma grande mulher.
Num canto a memória usada.
Misturada.
No rendilhado tempo.
Um fio solto na tua e na minha teia, isolada.
"PORQUE TE VESTES DE BRANCO ANJO MEU”
Estava estranhamente sereno, como se dor tivesse feito pausa de cansada. Presumi serem tréguas. Mais tarde, como sempre, voltariam pesadelos, memórias. Talvez faltasse apenas a expectativa, acreditei no silêncio, a calma despia a minha esperança ao ritmo monótono dos ponteiros do relógio.
Anoitecia devagar. Eu e o dia. No seu passo o tempo corria. Hesitava em desperdiçar o espaço, quando reparei na foto, cliquei e voei no passado batendo à porta da imprevisibilidade.
Como sempre esperei…, permaneci quieto, quase desisti. Abriste a porta, deixei-me entrar. Estavas vestida de branco, afagavas docemente um cachorro…., de cor esbranquiçada, os seus olhos meigos olhavam embevecidos para ti, passei rapidamente e olhei em volta, para aquele lugar tão familiar. No salão dos eventos e das ilusões, os gritos peculiares da sala vazia. Ao fundo uma única cadeira no lugar certo. Tu acreditaste que alguém a saberia sentar……, talvez um dia.
Estava calmo quando me olhaste e me perguntaste:
- Porque não vens de branco? Hoje é noite branca! Não reparaste que as luzes das piscinas da Galé estão iluminadas? Anda amigo, recorda o tempo…., anda lá, vai mudar de roupa, porque o espetáculo tem que começar.
Eu sorri e respondi:
- Eu estou de branco o meu nome perpétua minha veste, pois chamo-me João Branco. No suspense limite da eternidade, quando me vesti, ao meu nome dei cor, no meu corpo cresceram ténues asas que vacilam no voar. Sabes, tu e eu somos esperança esbanjada, quimera, ecos suspensos de voo por terminar.
- Eu sei quem sou! Mas tu quem és? Sim quem és, porque colocas prosa poética nas tuas palavras escritas e saudade dolorosa nas tuas recordações. Onde te escondias?
- Quiçá dentro de mim! Quiçá dentro do tempo. Não sou mais que o passado dispersado, sem qualquer expressão. Um Quixote amargurado, pelejante de ventos amotinados, que constrangem meu verso e o ritmo de meu respirar. Desperto a origem dos séculos, invoco fadas e princesas, sou delirante cavaleiro, predador das incertezas, abrigando em mim tudo o que sou.
- A tua cara não me é estranha! A tua voz é familiar…, mas não te conheço cavaleiro de letras e poesia.
- Tu sabes quanto tempo é um instante? Quanto dura a eternidade? Quanto tempo é saudade?
- Que mais posso eu dizer! Não, não sei. Porque me perguntas?
- Se a felicidade foi o tempo em que vivi e sonhei, é na saudade de ti, que sempre soube que te encontraria. A letra que talho é enigma da verdade, por isso deslumbrado e rendido, interrogo-me; “porque te vestes de branco anjo meu". Mesmo que estejas só de passagem. Fica.
Apelo à centelha adormecida nas cinzas do tempo, para adormecer nos teus olhos, voar nas tuas asas e sonhar com todos aqueles momentos intensos, que partilhamos com quem mais gostamos.
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Um beijinho anjo branco, extensivo a todas as nossas colegas que deram mais luz e cor, iluminando as tão badaladas Noites Brancas.
João Murty
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