CASA PARA UMA MULHER ARQUIVELHA- Raquel Naveira

 Quando criança
Sentia-me ao mesmo tempo
Uma menina solitária,
Franzina
E uma velha muito sábia,
Muito digna,
Que conhecia coisas humanas e divinas.
Nessa casa,
Cheia de quartos e quinas,
Viverá essa velha,
Arquivelha que sou eu.
Será uma casa silenciosa
Onde realizarei trabalhos simples
Como acender lampiões
No fim da tarde.
Será uma casa
Quase casulo
Onde aceitarei as condições da existência,
Tecerei fios de seda
Em direção ao infinito.
Será uma casa resistente
Capaz de suportar blocos gigantes
Que desabem
Em avalanche
Sobre o teto.
Nessa casa
Serei cada vez mais antiga,
Prudente,
Erudita,
Fiel ao espírito que me agita
E ao qual cedi a palavra.
Nessa casa
Nada perturbará a alma de meus ancestrais,
A atmosfera de prece:
Vida que se cumpre
E desaparece.

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