José Dias de Melo- biografia



Dias de Melo concluiu os estudos liceais na cidade da Horta, Ilha do Faial, onde se estreou na imprensa. Colaborou com os jornais regionais O Telégrafo, Ilha, Correio dos Açores e Açoriano Oriental, bem como com os jornais nacionais Diário de Notícias e Diário de Lisboa. Fundou, juntamente com colegas do Liceu da Horta, a Associação Cultural Académica, em novembro de 1944.

Em 1949, radicou-se em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, onde foi professor do Ensino primário e, posteriormente, do preparatório, nível em que também lecionou na Cova da Piedade, Almada (1976-1977) e nas Lajes do Pico, Ilha do Pico (1978-1979).

Faleceu aos 83 anos em Ponta Delgada, no dia 24 de setembro de 2008

A sua estreia em livro fez-se com os poemas de Toadas do Mar e da Terra (1954), mas a sua escrita cedo infletiu para a narrativa com as «crónicas romanceadas» de Mar Rubro (1958). A partir daí, a sua obra construiu-se com uma notória regularidade e também sob o signo da diversidade, patente na publicação de crónicas, romances, contos, relatos de viagem, trabalhos de investigação e recolha etnográfica, havendo a destacar o vasto recurso ao testemunho oral, como ocorre em Na Memória das Gentes, obra em que as vozes individuais se entrecruzam na composição geral de um complexo tecido histórico e social picoense.

A diversidade da obra de Dias de Melo mantém-se, no entanto, fiel a um principal núcleo temático: a experiência de vida do homem açoriano, particularmente a do baleeiro picoense, cuja saga individual e histórica proporcionou ao autor algumas das suas páginas mais dramáticas e pungentes.

Entre a matéria de evocação e a de natureza ficcional, por vezes articuladas de modo indestrinçável, a obra de Dias de Melo dá-nos um vasto quadro da vivência humana numa comunidade rural-marítima fechada, com os seus sonhos e fracassos, as suas intrigas e os gestos solidários, a luta contra as forças da natureza e os interesses sociais.

Quando a sua narrativa se expande até ao espaço urbano, deparamo-nos igualmente com um narrador comprometido com a sorte dos mais fracos e das vítimas da engrenagem social. O autor assume, aliás, as suas afinidades com o posicionamento estético e a visão do mundo próprios dos neorrealistas e poderemos ainda detetar a sua proximidade em relação a autores como Erskine Caldwell ou John Steinbeck. Aliás, visita à casa e ao território deste último e das suas personagens deu origem a uma longa e efusiva crónica, «O Santuário de Steinbeck», incluída em Das Velas de Lona às Asas de Alumínio.

A obra de Dias de Melo ocupa hoje um lugar singular no âmbito da literatura açoriana, como o atesta o reconhecimento das gerações que se lhe seguem.




Comentários