Os muros brancos da indiferença
desafiam os pintores
a pintar neles a esperança
amarelos sóis girando
roxos violetas azuis
gente animais árvores flores
como há e não há inventados
largas janelas abertas
para a vida e para o sonho
vermelhos entusiasmos
castanhos terra serenos
verdes e verdes terrenos
de horizontes rasgados
onde caibam os países
e os continentes e os mares ainda por descobrir
e o homem caiba inteiro
na verdadeira grandeza
em profundas perspectivas
tudo o que é grande e pequeno
dos outros o que a nós pertence
de nós o que a todos damos
a noite intensa povoada de sóis
que outros dias iluminam
a esperança neles pintada
a Paz o Pão o Amor.
E nas mansardas escuras
com os brancos muros em frente
da gelada indiferença
os artistas febris
esboçam em traços difusos
a própria morte do sonho.
Mas já na sombra da sombra
que sobre os brancos muros se estende
O coro das carpideiras
tece flores de retórica
para coroar-lhes as caveiras
e os conservadores misantropos
dos museus do que já foi
fazem o espólio das artes
com requintes de molduras.
Nos muros brancos da indiferença
gela o frio esquecimento…
(in Antologia de Poetas Alentejanos)
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