Enquanto valor absoluto, provavelmente, a Ética não existirá, desde logo porque a pessoa humana continua a sua construção ao longo da vida, e sabe que é um ser inacabado, imperfeito. A dinâmica da sua vivência leva-a a descobrir novas formas de melhorar comportamentos, tomar decisões que, depois, tenta aplicar no espaço e no tempo.
A sua grande capacidade de mobilidade e flexibilidade, resultará em grandes avanços para a própria harmonia, entre os seus pares, porém, sem nunca perder a sua dignidade, e a exigência de reciprocidade que deve existir no relacionamento entre as pessoas, nas diversas situações da vida.
O relacionamento pessoal, entre pessoas que se respeitam, deve, desde logo, incluir a verdade, porque esta também significa lealdade. É certo que, para determinadas pessoas, e em certas circunstâncias, a mentira parece ajudar a resolver certos problemas, porém, mais tarde ou mais cedo, ninguém pode prever as consequências, de resto: «Numa pesquisa realizada na Alemanha, a grande maioria dos pesquisados, achava que – mentir em assuntos menos importantes para proteger a si ou a outros é permissível e até mesmo necessário para que as pessoas se possam dar bem -. Um jornalista escreveu: falar a verdade, somente a verdade, todo o tempo é louvável, mas enfadonho.» (TESTEMUNHAS DE JEOVÁ, 2007:3).
Naturalmente que a verdade gera a confiança. As relações pessoais entre duas ou mais pessoas, devem criar, em cada uma delas, um sentimento de segurança, que conduz a uma total abertura, ao ponto de toda e qualquer dificuldade, problema, alegria ou tristeza, doença ou saúde, êxito ou fracasso: pessoal, social e profissional, dever ser transmitido à outra parte, entretanto transformada em amiga/o, sincero, leal, verdadeiro.
Assim, poder-se-ia aplicar o princípio segundo o qual: “O amor ao próximo nos motiva a buscar o bem-estar das pessoas, a não abusar da sua confiança. Esse princípio poderia acabar com as várias formas de exploração humana, estimuladas pela ganância. (Ibid.:5).
Um outro valor que é essencial nas relações humanas é a lealdade. Na verdade, este grande valor estará presente em muitas das circunstâncias da vida humana: no casamento, no trabalho, nos meios sociais, entre amigos que de facto o são. Interessa aqui, porque normalmente é pouco focada, destacar a lealdade como fundamental para a amizade, porque: «Um amigo não é apenas um conhecido. Temos muitos conhecidos – vizinhos, colegas (…). Mas a verdadeira amizade requer que se invista tempo, energia e dedicação. É uma honra ser amigo de alguém. Amizades trazem não só benefícios, mas também responsabilidades.» (Ibid.:6).
As relações pessoais, como se pode verificar, serão muito mais facilitadas, e enriquecedoras, quando este valor é incluído nelas. A amizade poderá ser fácil de se obter: por simpatia, por necessidade, por uma circunstância inesperada da vida, nas relações de trabalho, mas reforçá-la, mantê-la cada vez mais dinâmica, parece bem mais difícil para a maioria das pessoas. Só com muita determinação e uma sincera cumplicidade isso será possível.
O relacionamento entre amigos verdadeiros implica, entre eles, uma lealdade sem limites, porque é necessário que confiem um no outro. Não pode existir amizade sem um verdadeiro sentimento de “Amor-de-Amigo”, isto é, os amigos nutrem, um pelo outro, mais do que uma simples amizade circunstancial, resultante de uma qualquer situação limitada pelo tempo e pelo espaço, porque: «A “Lealdade” é essencial para a amizade. Um ato de deslealdade, por outro lado, pode acabar com um relacionamento de longa data. É comum que os amigos se consultem um ao outro, mesmo em assuntos confidenciais. Os amigos vão falar o que tiverem no coração sem temer ser menosprezados ou ter a confiança traída (…), o verdadeiro companheiro está amando todo o tempo e é um irmão nascido para quando há aflição.» (Ibid.:6).
Considera-se de fundamental importância, para um bom relacionamento pessoal, mais do que um valor, uma virtude, trata-se da Humildade, que parece estar afastada de muitas “boas” mentes, eventualmente, por um qualquer complexo, talvez de vergonha, ou até por ser conotada a uma atitude, ou comportamento, persistente de “fraqueza” de quem a possui porque: «Ser humilde não significa que a pessoa não tenha habilidades ou não tenha conseguido nada na vida (…). A humildade envolve não ter orgulho, nem arrogância (…), uma mente humilde é o resultado de uma avaliação realista de nós mesmos – das nossas virtudes e fraquezas, das nossas vitórias e derrotas (…), sem dúvida, cultivar a humildade mental é uma excelente maneira de manter boas relações com os outros. Ela pode nos ajudar a enfrentar os desafios de um mundo egoísta e competitivo (…). O orgulho vem antes da derrocada e o espírito soberbo antes do tropeço.» (Ibid.: 4-7).
A Ética enquanto valor universal que baliza e reflete sobre os comportamentos das pessoas, independentemente do contexto (embora, e também, no quadro profissional que, aqui, ao assumir um conjunto de deveres se designará por Deontologia) é essencial às boas relações, sejam estas pessoais, profissionais, sociais, políticas ou de qualquer outra natureza.
Uma Ética não individualista nem egocêntrica, mas uma Ética para todos e com todos: «A Ética não pode ser nem simples reflexo da consciência individual, nem o produto (ou resultado) de cálculo utilitarista, de prazeres ou dores (de contentes e descontentes). A Ética tem a ver com homens de carne e osso, com bens reais e com normas possuidoras
de fundamento objectivo, que são válidas para todos, ainda que nem sempre se consiga chegar a um acordo explícito.» (MOREIRA, 1999:49).
A preocupação Ética nas relações pessoais, deve, portanto, ser uma inquietação de todos, de tal modo que (sem a confundir com a amizade, porque esta constitui um valor sentimental, não materialista) possa ter sempre consequências práticas, designadamente no comportamento individual, grupal e societário. Uma sociedade eticamente bem formada, nunca será atingida pela conflitualidade agressiva e/ou violenta.
De igual forma, uma família, uma empresa ou, simplesmente dois amigos, quando utilizam um comportamento ético, com todos os valores que a Ética comporta: Lealdade, Solidariedade, Carácter, Assertividade, Transparência, Humildade, Gratidão, Respeito, enfim, Verdade, o relacionamento interpessoal será melhor.
As sociedades contemporâneas vivem um período muito complexo. As dificuldades são imensas, as pessoas encontram-se, quantas vezes, como que perdidas e, neste labirinto de situações incertas, reagem de formas diferentes: quer individual, quer grupalmente. Os comportamentos atingem, compreensivelmente (o que não significa aceitavelmente) os limites do racional, ultrapassando as barreiras do bem, e de outros valores civilizacionais.
As relações interpessoais devem, portanto, incorporar, como pressuposto insubstituível, a dimensão Ética, aqui considerada como: «O referencial do acto ou comportamento ético, é o Bem, o Correcto, o Certo. Qualquer destes termos é utilizado para desempenhar esta função, na língua portuguesa de uso corrente (…) Comportamentos que realizam objectivos próprios do homem, no seio de uma sociedade concreta. Cada homem é responsável pelos seus actos e pelo seu comportamento. É assim em sociedades que aceitam o princípio da liberdade.» (PATRÍCIO, 1993:140).
O comportamento ético implica autonomia para, “face ao outro”, agir com responsabilidade e objetividade, de forma a prever, antecipadamente, tanto quanto possível, as consequências que daí possam resultar. As relações pessoais com Ética, numa sociedade de valores, como a democracia, a cidadania, a liberdade e a fraternidade, postulam uma aprendizagem.
Os valores não se adquirem pela via genética, na medida em que: «Sendo a pessoa o sujeito e fim da sociedade, tudo deve estar orientado para o aperfeiçoamento das suas faculdades. Isto implica a educação do homem para que no exercício de seus deveres e direitos, proceda por decisões pessoais, fruto da própria convicção, da própria iniciativa, do próprio sentido de responsabilidade, mais que por coação, pressão ou qualquer outra forma de imposição externa.» (GALACHE-GINER-ARANZADI, 1969:18).
Uma Ética para as relações humanas passa, necessariamente, por valores que suportam os comportamentos corretos, objetivos, bons. O mundo, excessivamente materializado, em que se vive atualmente, não engrandece os velhos, mas ainda não superados, valores: «Pena que a vida moderna não favoreça a existência da figura do
filósofo, cuja espécie parece extinta. O mundo tem ganho em desenvolvimento científico e tecnológico, mas não tanto em sabedoria (não confundir com cultural geral). Existem muitos pensadores, mas não sábios como os do tempo da velha Grécia. Filosofia e Arte, são, talvez, os únicos aspectos do conhecimento em que o mundo moderno não superou o antigo.» (RESENDE, 2000:85).
É, portanto, no conhecimento filosófico, de que a Ética é parte integrante e insubstituível, que também se pode buscar um quinhão para um comportamento correto, de resto tão necessário, quanto desejado, pela população mundial que aspira: ao Bem-Comum, à Segurança, à Paz e à Felicidade.
Bibliografia
- JEOVÁ, Testemunhas, (2005) Os Benefícios de Ser Leal, in “A Sentinela”, Brasil, 1º setembro 2005.
- JEOVÁ, Testemunhas, (2007). Falar a Verdade é só para os Outros? in “A Sentinela” Brasil, 1º fevereiro 2007
- JEOVÁ, Testemunhas, (2007:6) Revesti-vos de Humildade Mental, in “A Sentinela”, Brasil, 1º setembro 2007.
- JEOVÁ, Testemunhas, (2010). Uma Crise de Confiança Geral, in “A Sentinela”, Brasil, 1º outubro 2010.
- MOREIRA, José Manuel, (1999). A Contas com a Ética Empresarial, 1ª. Ed., S. João do Estoril-Cascais: Principia, Publicações Universitárias e Científicas, Apud Alexandre Herculano, (1853) “A Descentralização”, em O Portuguez, de 8 de junho de 1853.
- PATRÍCIO, Manuel, (1993). Lições de Axiologia Educacional. Lisboa: Universidade Aberta
- RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Auto-Ajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Livre Pensador
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