Idosos: Património Axiológico- Diamantino Bártolo



Os idosos (ou os “velhos”, como vulgar e pejorativamente são designadas as pessoas a partir de uma certa idade, tradicionalmente, a partir dos 65 anos), começaram a ser marginalizados precisamente, com a institucionalização de propalados argumentos de inutilidade e, ainda mais grave, invocando-se os custos sociais que eles causam ao erário público, ignorando-se que, foram eles, no seu tempo de vida ativa, com as respetivas comparticipações que alimentaram o sistema de Segurança Social, e que cumpriram as suas obrigações fiscais.
Os idosos, tal como as gerações que se lhes seguem, (as crianças e  jovens de hoje) são o melhor património humano que um país pode ter, desde logo, se os governantes, responsáveis empresariais e de outras áreas, tiverem a inteligência e a visão estratégica de saber utilizar o imenso manancial de conhecimentos, experiências, sabedoria e prudência, que a maior parte dos idosos possui, independentemente das suas culturas serem de natureza intelectualizada ou antropológica.
Desprezar o valioso contributo das pessoas que, não obstante terem entrado na reta final de suas vidas, continuam válidas, disponíveis para manterem uma boa colaboração: com a sociedade em geral; com as gerações mais novas, em particular, constitui um grave erro, para além de uma mesquinha ingratidão daqueles que, de alguma forma, detêm determinado poder de decisão.
Apoia-se, portanto, uma teoria e uma prática que privilegiem os idosos, que lhes dêem a oportunidade de passarem o testemunho de vida e de saber, em condições dignas, ao longo deste período de vida, que se considera o mais característico da existência do ser humano, no qual coexistem capacidades, conhecimentos, experiências, sabedoria, circunspeção, valores e segurança nas convicções, onde toda uma entidade se consolidou numa postura rigorosa, severa, mas também tranquila, confiante e estimulante para as gerações vindouras.
O progresso material, e a felicidade espiritual da pessoa integrada numa sociedade, verdadeiramente humanista, passa, imperativamente, pela consideração devida aos mais velhos, e a tudo o que eles representam, com sucessos e com fracassos, porque eles são a História, a Língua, a Cultura, as Tradições, os Valores, o Trabalho feito, que os mais novos estão a usufruir e, se possível a melhorar.
Uma primeira abordagem poderá ser desenvolvida no sentido de atender às necessidades daqueles que, por incapacidade de qualquer natureza, ou por opção própria, não podem e/ou não querem continuar na vida ativa, preferindo os cuidados médico-sociais adequados, acompanhados de uma vida de reflexão, de tranquilidade e de recordações.
A educação e formação do idoso, para nesta fase da sua vida ter as melhores condições, não só para viver com melhor qualidade de vida, como também para estar à altura de transmitir às gerações mais novas, que se lhe vão seguir, todos os conhecimentos, experiências e sabedoria, constitui uma estratégia muito interessante, de grande visão político-social, porque se acredita na sua eficácia, justamente, para o bem-estar e felicidade espiritual do idoso.
Fica-se, todavia, com uma primeira reflexão sobre a importância dos idosos, bem como a riqueza que eles representam para o bem-estar e felicidade da humanidade, porque o património que eles carregam, fruto da educação e formação que foram adquirindo ao longo da vida, das experiências vividas e sabedoria acumulada, não se pode perder.
Jogar fora, por absurdos preconceitos etários, um património tão valioso, quanto inimitável e irrepetível, significa uma visão redutora, mesquinha e receosa da perda de um qualquer poder, ou de não o vir a alcançar mais cedo, porque, alegada e eventualmente, haverá um idoso no caminho da progressão de um jovem.

Venade/Caminha/Portugal, 2017

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Jornal: “Terra e Mar”



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