O AVIÃO INVISÍVEL (*)Ely Vieitez Lisboa


    Raquel Naveira é, sem dúvida, uma das mais importantes escritoras atuais. Romancista notável, poetisa excelsa e uma grande professora, que nos encanta por sua cultura única, seus conhecimentos profundos de Literatura, História, Arte e Mitologia. Conhece a Bíblia como uma hermeneuta. Cada texto seu é uma aula preciosa.
T    enho em mãos seu livro de Crônicas, O Avião Invisível, (Editora Ibis Libris, Rio de Janeiro), lançado dia 12 de setembro, 2017, no Jardim M/S Centro de Convenções Oswaldo Monteiro, no Mato Grosso do Sul. São 76 crônicas, não muito longas, com prefácio de José Fernando Mafra Carbonieiri, professor e jurista, poeta e escritor, membro da Academia Paulista de Letras. É ele quem afirma, no prólogo: “Embora independentes, cada qual com uma reflexão fechada em si mesma, as crônicas não são descontínuas. Une-as o assombro da escritora pelos enigmas aparentes da existência que ela analisa até deslindar-lhe os objetos, até fixá-los no âmbito de sua afeição”.
    Minha missão é impossível. No meu pequeno espaço dominical, tento comentar um livro riquíssimo, mais propício para uma tese, pela variedade de temas e o conhecimento profundo da autora, que nos descortina mundos antes nunca vistos. Sua abordagem dos assuntos sempre nos enriquece. Parte, às vezes, de um início pessoal, simples e, após, presenteia-nos com lições jamais vistas, como uma grande Mestra. 
    Como comentar um livro, se cada crônica merece uma análise acurada, que nos traz sempre novidades? Veja-se o exemplo da crônica Cocanha e Pasárgada”; o segundo termo tornou-se famoso pelo poema de Manuel Bandeira. Mas e o primeiro? Raquel elucida-nos: “Na Idade Média, no século XII, criou-se o mito da Cocanha, um país onde não se trabalhava, havia abundância de alimentos, as lojas distribuíam produtos de graça, as casas eram feitas de doce, o sexo era livre, o clima ameno, o vinho interminável e todos eram jovens para sempre. Vivia-se entre rios de leite, chovia queijo do céu e leitões assados ostentavam uma faca espetada no lombo. Esse delírio foi retratado por um pintor chamado Pieter Bruegel”.
    A lição continua com Baudelaire, no poema “A Vida Anterior”, seguido por Manuel Bandeira, com sua Pasárgada, que significa “campo dos persas” e Tatiana Belinski, em seus Limeriques de Cocanha”. Raquel, em fina análise, afirma: “Cocanha, Pasárgada, Paraíso, reforçam a existência de dois mundos: o presente e o imaginário, o que se nega e o que se deseja”. No final, afirma, com lucidez, que tais mundos perfeitos sempre levam ao tédio e ela ainda nos presenteia com uma lição sábia, filosófica e realista. 
    Esta riqueza de conhecimentos é apenas de uma crônica. Como analisar o livro nesse pequeno espaço? Ave, grande mestra Raquel Naveira!




Comentários