A turbulência que se verifica no mundo,
praticamente em quase todos os setores da sociedade, aponta para que os
cidadãos, independentemente do seu estatuto, se unam no sentido de ultrapassar
divergências e, com cedências recíprocas, construam alternativas, pelo diálogo,
para que possam ser resolvidos os problemas que, de certa forma, atingem todas
as pessoas.
Exige-se de todos os atores, neste palco
societário, a máxima moderação, desde já nos domínios da: Sabedoria, Prudência e
Ética, para ultrapassar interesses individuais e/ou de grupo, sejam quais forem
os objetivos, na medida em que o bem comum deverá prevalecer e posicionar-se
acima do bem individual, obviamente, sem que este, quando legal, legítimo e
justo, seja prejudicado
Entre muitos outros, pode-se afirmar que valores
universais como a Prudência e a Ética, são fundamentais para se caminhar no
sentido de uma sociedade mais justa, mais humanizada e mais solidária. A
Prudência implica: «Traçar estratégias
para conhecer, julgar e agir; para se avançar no caminho e alcançar o sucesso e
a perfeição.» (GRACIÁN, 2006: contracapa).
Por outro lado, a Ética enquanto reflexão crítica
do comportamento moral, juntamente com a Prudência, conduzem a sociedade para
os consensos necessários à: harmonia e desenvolvimento equilibrados das nações,
dos grupos económicos, financeiros, empresariais, políticos, religiosos,
famílias e, das pessoas.
Vários são os aforismos ligados à Prudência, porém,
nem todos comportarão uma vertente verdadeiramente Ética. Quando se invoca, ou
se age com “alegada” Prudência, no sentido bajulador ou cínico, a Prudência
poderá voltar-se contra o pseudo-prudente e, neste caso, a Ética ficou
irremediavelmente prejudicada. A Prudência com Ética, para que as palavras e os
atos prudentes assentem em critérios bons, corretos, educados e sábios,
seguramente que é o caminho certo, a seguir pela humanidade.
Viver em sociedade com Prudência exige, portanto,
maturidade, Sabedoria e Experiência, embora, eventualmente, ainda assim, não
seja tudo, se não estiver envolvida, desde logo, a Ética Educacional, ao nível
mais elevado da pessoa, enquanto ser único e supremo.
Com efeito: «Ser
pessoa é ser indivíduo, concreto, consciente de si e capaz de decisões livres.
Assim, é para o cerne da pessoa que deve ser dirigido o processo da educação
Ética. (…). A Ética virtuosa tradicional assentava na exterioridade dos
comportamentos: trabalhava-se de fora para dentro, acreditando que o exterior
moldaria o interior.» (PATRÍCIO, 1993:142).
O relacionamento humano atual pressupõe, em muitas
situações, um comportamento que não será verdadeiramente ético, mas que se
pauta mais pela conveniência, pela “necessidade” de um certo equilíbrio, para
se reunir um mínimo de condições que levem a alguns consensos. É um pouco o tipo
da “diplomacia com punhos de renda”, para ser vista, não que seja sempre
sentida e vivida com verdade.
Ser-se Prudente com Ética, poderá ser difícil, na
medida em que tem de se concetualizar a Circunspeção. Na verdade, há quem tenha
uma ideia de desconfiança, de ceticismo em relação à Prudência. Utilizam-na,
justamente: ou para se prevenirem contra alguma situação que lhes possa ser
desfavorável; ou, sob esta “capa”, tentarem induzir em erro aqueles a quem
querem enganar. Nestas condições, a Ética na Prudência parece não existir.
Pretende-se, nesta breve reflexão, interpretar a
Prudência como uma virtude própria da Sabedoria. Prudência no sentido nobre,
que se atribui ao sábio, àquele que pelo exemplo de vida, pelo pensamento
crítico construtivo, pelos valores fundamentais que enformam a sociedade
humanista, consegue ser ouvido, aceite e, quantas vezes, seguido.
Aquele em
que: «O sábio agradece às pessoas que
acreditaram nele porque o ajudaram a se sentir abençoado, mas agradece também
àqueles que o desqualificaram, pois foram eles que o ensinaram a ser um
guerreiro.» (SHINYASHIKI, 2000:66).
A Prudência, no seu sentido mais genuíno envolve,
portanto: comportamentos, atos e linguagens cautelosos. Poder-se-ia, ainda,
acrescentar, uma certa dose de gentileza, de amabilidade, quando ela é
manifestada a outros, sob a forma de conselhos, sugestões, opiniões
benevolentes. Ser prudente, na relação humana, caso se pretenda que esta seja
profícua, envolve tranquilidade, análise aprofundada das situações, coerência
entre o pensamento e a ação.
Desenvolver
um determinado pensamento, sobre uma situação, um facto, uma pessoa e, depois,
incoerentemente, agir de forma contrária, não é caraterística própria da
lealdade, mas pode ser oportuno a um certo tipo de Prudência de defesa, de não
divulgação daquele mesmo pensamento, para assim agir de acordo com a
conveniência e popularidade, numa postura falsa.
Importa, indubitavelmente, assumir a Prudência,
como uma virtude de prevenção, de aconselhamento e de execução de atos que
podem refletir-se em terceiros, também, no sentido de balizagem da linguagem e
comportamento. Ainda na tomada de decisões privadas, e/ou públicas. Mas sempre
a Prudência sem sofismas, sem hipocrisias, sem oportunismos, dir-se-ia: Prudência
Ético-Assertiva.
Claro que é muito importante uma habituação
prudente, com Sabedoria, com Ética, ou seja, sem ferir suscetibilidades, sem
ultrapassar direitos, competências e funções de outras pessoas. Ser prudente
implica ser-se discreto, humilde, grato, aberto aos pedidos de ajuda
formulados. A Prudência como uma atitude generosa, compreensiva e tolerante.
Prudência para o bem, para evitar situações complicadas. Prudência como mais um
e fundamental valor para a vida-boa.
Pensa-se que o ato prudente é o que se modela a uma
determinada realidade, sem exageros, com respeito e educação pela pessoa que
pratica uma determinada ação, mas também sem a supervalorizar, até porque pode
criar expectativas demasiadamente negativas ou positivas, respetivamente.
A dificuldade do prudente está em saber dosear a
sua apreciação, porque: «O louvor
desperta a curiosidade, atiça o desejo, e, mais tarde, quando se percebe que os
bons foram superestimados, como acontece muitas vezes, a esperança traída
vinga-se menosprezando o elogiado e aquele que o elogiou. Os cautos têm
comedimento, preferindo pecar pouco a muito». (GRACIÁN, 2006:40).
A Prudência, enquanto qualidade humana de algumas
pessoas, no sentido do aconselhamento, com base em experiências adquiridas ao
longo da vida, durante um percurso existencial, constitui um património a não
desperdiçar e, se for aconselhável, a seguir pelas gerações mais novas.
Obviamente que a idade, muito menos o género, ou
qualquer outra característica, não são determinantes para se afirmar, com
segurança, quem é mais prudente: uma pessoa idosa ou nova; uma mulher ou um
homem; um cientista ou um leigo; um negro ou um branco. Seguramente
encontram-se pessoas prudentes em todas as classes sociais, povos e etnias.
Prudência, Sabedoria e Ética, poderá ser a
“mistura” desejável para haver um melhor relacionamento entre pessoas, entre as
pequenas comunidades e entre as sociedades. Estes três ingredientes, que podem
ser adquiridos ao longo da vida, quando consolidados, devem ser colocados ao
serviço da dignidade humana, na resolução dos conflitos, na paz mundial.
É bem provável que quem tiver o privilégio de
possuir, e utilizar, aquelas qualidades: Prudência, Sabedoria e Ética, possa
vir a ser uma pessoa realizada, de sucesso, e que consiga, igualmente,
contribuir para o êxito de outras pessoas. Ter objetivos na vida, ideais,
missões para cumprir, revelam-se importantes e necessários para se aplicar as
qualidades e os valores referidos, até porque: «O sucesso somente é importante quando você tem a sensação do amor
dentro de si. O sucesso só tem sentido quando você lhe dá esse aspecto e se
percebe realizando uma missão.» (SHINYASHIKI, 2000:177).
Bibliografia
ÁVILA, Lauro
António Lacerda de (2005). Lealdade nas Atuais Relações de Trabalho, Vale do
Rio dos Sinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Cadernos IHU, Ano 3, Nº
14 – 2005
GRACIÁN, Baltasar. (2006). A Arte
da Prudência. Tradução. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret
PATRÍCIO, Manuel, (1993). Lições
de Axiologia Educacional. Lisboa: Universidade Aberta
SHINYASHIKI, Roberto T., (2000). Os Donos do Futuro. 31ª
Edição. S. Paulo: Editora Infinito.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Comentários