Pafos – um nome só do fundo da memória,
Meus livros já fechados, longe, me fascina
Das espumas querer salvar uma ruína
Sob os jacintos de seus vãos dias de glória.
Que corra o frio com a sua foice muda.
Nenhuma nênia inócua urlará minha boca
Se vórtice tão branco ao rés do chão não muda
Todo lugar no honor de uma paisagem oca.
Minha fome que aqui fruto nenhum exalta
Encontra igual sabor em sua douta falta:
Que um só rebento em carne humana e odorante!
Pé sobre a serpe de onde o nosso amor sazona,
Um outro sobreleva o meu pensar constante:
O seio a que abrasou uma antiga amazona.
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Mes bouquins refermés…
Mes bouquins refermés sur le nom de Paphos,
Il m’amuse d’élire avec le seul génie
Une ruine, par mille écumes bénie
Sous l’hyacinthe, au loin, de ses jours triomphaux.
Coure le froid avec ses silences de faux,
Je n’y hululerai pas de vide nénie
Si ce très blanc ébat au ras du sol dénie
A tout site l’honneur du paysage faux.
Ma faim qui d’aucuns fruits ici ne se régale
Trouve en leur docte manque une saveur égale:
Qu’un éclate de chair humain et parfumant!
Le pied sur quelque guivre où notre amour tisonne,
Je pense plus longtemps peut-être éperdument
A l’autre, au sein brûlé d’une antique amazone.
1887
– Stéphane Mallarmé, no livro “Poesia da recusa”.
organização e tradução Augusto de Campos
Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.
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