Bailarina fui
Mas nunca dançei
Em frente das grades
Só três passos dei
Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dançei no avesso
Do tempo bailado
Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei
Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado
Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei
Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:
«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»
Sophia de Mello Breyner Andresen | "O nome das coisas", 1977
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