O sol, na areia, aquece, ó brava adormecida,
O ouro da tua coma em banho langoroso,
Queimando o seu incenso em tua face aguerrida,
E mistura aos teus prantos um filtro amoroso.
Desse branco fulgor a imóvel calmaria
Te faz dizer, dolente, ó carícias discretas,
“Jamais nós dois seremos uma múmia fria
Sob o antigo deserto e as palmeiras eretas!”
Porém os teus cabelos, rio morno, imploram
Para afogar sem medo a nossa alma triste
E encontrar esse Nada que em teu ser não medra.
Degustarei o bistre que teus cílios choram
Para ver se ele doa àquele que feriste
A insensibilidade do azul e da pedra.
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Tristesse d’été
Le soleil, sur le sable, ô lutteuse endormie,
En l’or de tes cheveux chauffe un bain langoureux
Et, consumant l’encens sur ta joue ennemie,
Il mêle avec les pleurs un breuvage amoureux.
De ce blanc Flamboiement l’immuable accalmie
T’a fait dire, attristée, ô mes baisers peureux,
“Nous ne serons jamais une seule momie
Sous l’antique désert et les palmiers heureux!”
Mais ta chevelure est une rivière tiède,
Où noyer sans frissons l’âme qui nous obsède
Et trouver ce Néant que tu ne connais pas!
Je goûterai le fard pleuré par tes paupières,
Pour voir s’il sait donner au coeur que tu frappas
L’insensibilité de l’azur et des pierres.
1864
– Stéphane Mallarmé, no livro “Poesia da recusa”.
organização e tradução Augusto de Campos
Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006
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