Idealizar um projeto de vida perfeito, é um
exercício que não está acessível ao ser humano, desde logo porque a incógnita
quanto ao futuro mantém-se angustiantemente em cada indivíduo, por muitas
capacidades, competências e tecnologias que possua, além de que, a ciência, a
este respeito, também não tem condições objetivas para se pronunciar.
Esta limitação, aparentemente inultrapassável, não
constitui obstáculo invencível, sob o ponto de vista das perspetivas que cada
pessoa aguarda da vida, atentas as condicionantes existentes, as incertezas e a
finitude esperada para cada percurso, apostando-se na esperança de vida, e nas
variáveis que, de alguma forma, se podem alterar, por iniciativa do próprio ser
humano.
A pessoa humana, enquanto tal, entre outros
aspetos, distingue-se do resto da natureza animal, precisamente por ter
horizontes de vida, que lhe permitem projetar-se no futuro, e elaborar os
respetivos planos, projetos, estratégias e esperar os resultados, igualmente calculados,
para um máximo de êxito e um mínimo de insucesso. Planificar o futuro, exige
muita prudência, sob pena de ter que se enfrentar situações indesejáveis e,
eventualmente, dramáticas.
É fundamental saber organizar a vida com bom senso,
o que implica muita preparação, tendo em conta as diversas dificuldades de
implementação, e desenvolvimento do projeto de vida que se deseja, considerando
que outras pessoas terão projetos idênticos, logo, concorrenciais.
É essencial ter bem presente que, em nenhuma circunstância,
a vida será sempre agradável, fácil e, permanentemente em ascendência, aliás, a
regularidade, sincronia e monotonia poderiam ser prejudiciais ao próprio
aperfeiçoamento da personalidade humana.
A organização é uma arma poderosíssima para se ultrapassar
situações difíceis e/ou imprevisíveis. A capacidade para organizar, e
implementar um novo projeto poderá ser a diferença entre o sucesso e o fracasso
porque: «O que torna a vida agradável é a
diversidade do conhecimento. Para uma vida bela gaste a primeira etapa
conversando com os mortos: nascemos para saber e conhecer a nós mesmos. (…).
Passe a segunda etapa com os vivos: veja e registre tudo o que há de bom no
mundo. (…) A terceira etapa da vida pertence inteiramente a você: filosofar é o
prazer mais elevado de todos.» (GRACÍAN, 2006:113).
Com efeito, prudência e bom-senso implicam
reflexão, tranquilidade, conhecimento, experiência, boas-práticas, tolerância e
muita paciência, com uma grande dose de boa-vontade, e força para prosseguir
pelos caminhos: da retidão, da nobreza e da compreensão, pela posição do seu
semelhante.
Algumas regras passam por organizar a vida com
prudência e bom-senso, incluir no respetivo projeto a dimensão religiosa do
homem, princípios e valores em geral e, também, espirituais que: por um lado,
satisfaçam as necessidades mais profundas e universais, como manter uma
consciência tranquila, simples e alegre; por outro lado, contribuir para o
sucesso global da pessoa, cujo aspeto principal configura uma realização
sublime, ao nível da superior condição do homem, concebido à imagem e
semelhança do seu Deus Criador.
O êxito construído a partir dos valores espirituais
é duradouro, consolidado e único. Aparentemente, muitas pessoas se consideram
de sucesso na vida profissional, com elevado estatuto sócio-financeiro, porém,
é possível que não se sintam totalmente realizadas, porque lhes falta alcançar
o triunfo espiritual e, na verdade: «Achamos
que sucesso é o mesmo que dinheiro, segurança e prestígio. Não compreendemos
que o verdadeiro sucesso está na satisfação das nossas necessidades
espirituais. Poucas pessoas atingem o verdadeiro sucesso porque estão perdidas,
a correr de um lado para o outro, no aeroporto do sucesso material.»
(BUCKINGHAM, 1995:20).
A prudência individual, apesar de necessária para
uma vida boa, pode, ainda assim, não ser suficiente, se os demais indivíduos
não tiverem idêntica preocupação. Um pouco à semelhança de muitas outras
situações, em que não basta o contributo de uma única pessoa, também na obtenção
do sucesso é importante, se não mesmo essencial, e decisiva, a participação da
família, do grupo, da comunidade e da sociedade internacional.
Em todas as dimensões da vida humana, acentuando
mais, naturalmente, as vertentes específicas para cada percurso, em
conformidade com os projetos e objetivos que se pretendem alcançar, algumas
grandezas devem estar presentes e sempre ativas, concretamente: religiosa,
social, educativa, laboral, política, económica, comunicacional, comunitária,
cooperação universal, entre outras possíveis.
A pessoa humana não consegue sobreviver com
dignidade e conforto, isolada dos seus semelhantes. A prudência para uma vida
boa aconselha abertura a Deus, aos homens e ao mundo e, na medida do possível,
com a máxima compreensão, tolerância e entrega ao outro, seu semelhante.
Bibliografia
BUCKINGHAM,
Jamie, (1995). Força para Viver, 2ª. Ed., Espanha (S.P), Resina de Almeida
GRACIÁN, Baltasar. (2006). A Arte
da Prudência. Tradução, Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
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