Muito embora a esperança seja, ou deva ser, a
última expectativa a morrer, a verdade, porém, é que naquela Páscoa de dois mil
e catorze, não haveria muitos motivos para nos sentirmos seguros, quanto a uma
desejável e legítima estabilidade, em vários domínios da nossa existência e,
enquanto cidadãos de deveres e direitos, porque, “tragicamente”, quase todos os
dias éramos “aterrorizados” com notícias devastadoras das esperanças, que ainda
poderíamos alimentar, quanto a um futuro tranquilo e confortável.
A sociedade portuguesa em geral, e alguns extratos
mais vulneráveis, em particular, continuavam a sofrer as consequências de
situações para as quais não contribuíram, nem eram responsáveis. Milhões de
pessoas entre funcionários públicos, trabalhadores do setor privado, reformados,
pensionistas, desempregados, imigrantes, sem-abrigo, excluídos, idosos viviam
(e milhares ainda continuam a subsistir) no limiar da pobreza, passando fome e
frio, com falta de saúde e de perspectivas quanto a um futuro com um mínimo de
dignidade humana.
A título meramente estatístico, os números atuais,
nesta Páscoa de 2018, as pessoas portuguesas e
imigrantes residentes no nosso país, apontam para cerca de 18 a 20 por cento
de: mulheres e homens; Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos; que
estarão a viver no limiar da pobreza, seja no que se refere aos rendimentos,
quer quanto a habitarem em condições condignas, entre outras situações,
igualmente importantes para a dignidade humana.
Naquela época, o mais alto Magistrado da Nação,
teve a coragem de, em cerimónia pública, na localidade de Azeitão, no passado
dia dezassete de abril desse ano, afirmar que «os sacrifícios exigidos aos portugueses foram excessivos, que existem
situações de miséria intoleráveis e que é tempo de parar com tais medidas, que
têm sido suportadas sempre pelos mesmos». Declarou, ainda, que «existem indicadores económicos que apontam
para que se pare com tantos sacrifícios».
Comemora-se um acontecimento de grande significado
para o mundo Católico, mas não só. A Páscoa, que deveria ser um evento de
alegria, de ressurreição dos bons princípios, valores e sentimentos, que têm
vindo a ser ignorados, como: o respeito pelos mais idosos, o trabalho para os
desempregados, as reformas/pensões para os que já contribuíram e atingiram a
idade para este direito, a inclusão total na sociedade, de todos os
marginalizados, enfim, a dignidade de toda a pessoa humana, infelizmente é, ainda,
para uma maioria dos portugueses, uma época festiva, talvez e só a nível
religioso.
Verifica-se, também, que os valores materiais se
têm vindo a sobrepor aos de ordem imaterial, aos sentimentos mais nobres. Tudo
gira à volta dos mercados, dos lucros, dos défices, dos números astronómicos da
ganância de alguns contra as mais elementares necessidades das maiorias.
Hoje, valores e sentimentos como: a solidariedade,
a amizade, a lealdade, a humildade, a gratidão e o amor, por exemplo, são muito
difíceis de se vislumbrarem, em algumas elites dominadoras, no entanto, elas,
as elites, não podem ignorar que: «O amor
é uma energia, a energia mais pura e mais elevada. Nas suas vibrações mais
altas, o amor possui sabedoria e consciência. É a energia que une todos os
seres. O amor é absoluto e não tem fim.» (BRIAN, 2000:17).
Durante alguns anos, praticamente: têm sido sempre
os mesmos a suportar o “fardo”, de uma dívida que não contraíram; têm sido
sempre os mesmos a serem privados dos direitos que, por contrato escrito, de
boa-fé, celebraram com um Estado que deveria ser, sempre, pessoa de bem. Foi
injusto, imoral e, em muitas circunstâncias, de duvidosa legalidade, o que
então se impôs a alguns extratos da sociedade portuguesa, precisamente por quem
se comprometeu a melhorar as condições de vida da população.
Apesar da situação difícil que ainda se vive: há
muita vontade em se acreditar em melhores dias; alguma esperança, calada bem no
fundo das nossas consciências, ainda não morreu; um certo e tímido otimismo
reina nos espíritos daqueles que continuam a sofrer e a lutar por um futuro
melhor, mas para que estes sinais não morram, é necessário que se continuem a
anular, de imediato, aquelas medidas gravosas que tanto têm prejudicado a
qualidade de vida de milhões de portugueses.
Mais um período Pascal se está a viver, com milhões
de portugueses ainda, relativamente, “crucificados” por: impostos, taxas,
sobretaxas, comparticipações extraordinárias, desemprego, fome, exclusão; idosos
que se “arrastam”, sem terem a certeza de quanto vão receber de reforma e/ou
pensão no mês seguinte; centenas de milhares de cidadãos que procuram,
desesperadamente, um trabalho; excluídos que continuam a dormir na rua, com
fome, sede, frio e doentes; jovens que abandonam a família, os amigos, o país
em busca, no estrangeiro, de uma vida de trabalho e de dignidade, a que têm
direito, mas que o país lhes recusa; e também, milhares de pessoas que, apesar
da idade, ainda poderiam ser úteis à sociedade, com a sua experiência e
sabedoria, todavia, são consideradas uma espécie de excluídos especiais, porque:
por um lado, não os deixam trabalhar; mas por outro lado, lhes retiraram parte
dos rendimentos para os quais labutaram e descontaram décadas.
É tempo de se acabar, definitivamente, com o
sofrimento e fazer descer da “Cruz” todos os portugueses que nos últimos anos
foram: “crucificados”, injusta, imoral e, quem sabe, ilegalmente; é tempo de se
cumprirem promessas feitas em contextos reais e que milhões de portugueses
acreditaram e colaboram, para que elas fossem executadas; é tempo de nos ser restituído
o respeito, a solidariedade, a dignidade devida a pessoas verdadeiramente
humanas.
Este ano, a Páscoa, enquanto acontecimento
religioso no mundo católico, decorre em data muito próxima de outro grande
evento nacional que é o vinte e cinco de abril, data para se comemorar a
liberdade, a igualdade e a fraternidade., valores que também são essenciais
para se reconhecer a dignidade humana.
Religião e Política não são incompatíveis, pelo
contrário, podem articular-se, cooperar e encontrarem as soluções para que em
Portugal, e no mundo, se viva com perspectivas de um futuro muito melhor, para
que a sociedade portuguesa sinta, irreversivelmente, que os seus deveres são
equitativamente exigidos, mas também os seus direitos integralmente
respeitados.
Os Portugueses são credores, em todo o planeta, de
grande admiração, respeito e estima, porque são cumpridores, honestos,
trabalhadores, humildes, educados e criativos. Tais qualidades devem ser reconhecidas
“cá dentro”, entre todos nós, a começar por quem nos administra e em quem
milhões de cidadãos acreditaram, independentemente das opções políticas,
religiosas e filosóficas de cada um e dos respetivos estatutos
sócio-profissionais. É tempo de “Descrucificar” a população; é tempo de a
retirar, definitivamente, da “Pesada Cruz”, a que foi submetida, injustamente,
durante alguns, longos, demasiado longos, anos.
Nesta Páscoa, que todos desejamos, finalmente,
vivê-la com alegria e esperança, num futuro muito melhor, queremos, apesar de
tudo, continuar a alimentar o “sonho da
felicidade”, que se pretende realizar através da segurança, da estabilidade
no trabalho, na certeza de um fim de vida confortável, sem receios de cortes
nas pensões/reformas. Temos direitos adquiridos por contratos firmados,
honestamente, imbuídos de boa-fé, com um parceiro que tem o dever de os cumprir
e, se possível, melhorar, pelo menos em benefício dos mais carenciados e
desprotegidos.
E se é certo que: «A felicidade aumenta com a intervenção social e participação nas
organizações beneficientes …» (RICARD, 2005:217), então, é necessário que o
Estado se preocupe muito mais com a dimensão social que deve ter para com todos
os portugueses, porque temos o direito de sermos felizes, aliás: «Nascemos para sermos felizes» (MARCELO,
2016, in: BÁRTOLO, 2017:Contra-Capa), em várias dimensões: axiológica,
trabalho, segurança social, saúde, educação, formação, habitação e lazer, entre
outras.
É tempo de se dizer “basta”, de não se crucificar
sempre os mesmos. Convoquem-se aqueles que não sendo funcionários públicos,
reformados, pensionistas e trabalhadores do setor privado, mas os outros,
aqueles que ocupam posições de destaque, bem remuneradas, porque, seguramente,
que estes também estarão disponíveis para darem o seu contributo e, desta forma,
atenuarem o sacrifício daqueles que nos últimos anos têm vindo a pagar a fatura
de uma “despesa” que não fizeram. Corte-se no que é exagerado, nos bens e
benefícios supérfluos.
Mais uma Páscoa. Nesta festa da Ressurreição de
Cristo Redentor: que se continue com a “ressurreição/restauração” de direitos
injustamente retirados; que se prossiga no respeito por todos quantos têm
contribuído para que este país seja símbolo do cumprimento dos Direitos
Humanos, das Normas Constitucionais, enfim, pela exaltação da dignidade da
pessoa humana.
Desejamos a todos os portugueses que nunca mais
tenham uma Páscoa tão triste como a que se viveu nos denominados anos “Troikianos”. Queremos para toda a sociedade
nacional que se continue a devolver todos os direitos para os quais contribuímos
generosamente, sempre de boa-fé. Queremos descer, finalmente, da “Cruz Pesada da Austeridade Injusta”. Queremos
Solidariedade, Amizade, Lealdade, Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Queremos
a nossa Dignidade de Pessoas Verdadeiramente Humanas.
Bibliografia
BAKER, Mark W., (2005). Jesus o Maior Psicólogo que já
Existiu. Tradução, Cláudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante.
BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2017). Em Busca
da Felicidade. Lisboa: Chiado Editora.
BRIAN L. Weiss,
M.D. (2000). A Divina
Sabedoria dos Mestres. Um Guia para a Felicidade, alegria e Paz Interior.
Tradução, António Reca de Sousa. Cascais: Pergaminho.
RICARD, Matthieu, (2005). Em Defesa da Felicidade. Tradução Ana Moura.
Cascais: Editora Pergaminho, Ld.ª.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Comentários