Se é
verdade que parte significativa da população mundial, vive em condições
aceitáveis, do ponto de vista da satisfação das necessidades elementares:
cuidados de saúde, alimentação, trabalho, habitação, educação, formação,
assistência social; também existe uma outra realidade que aponta para um
elevado número de pessoas a viver abaixo daquele nível, estatisticamente, em situações próximas do limiar da pobreza; uma
outra parte, cerca de 20% dos habitantes do mundo, viverá na pobreza extrema,
com um rendimento por pessoa equivalente a 1 dólar por dia, o que se deplora, e
constitui uma manifesta dificuldade dos governantes responsáveis, para
eliminarem esta indigna chaga social.
Resulta
que, em qualquer parte deste planeta, seja o país mais rico, ou o mais pobre,
existem pessoas e grupos económicos extremamente ricos, e outros grupos,
miseravelmente pobres, situando-se entre os dois extremos uma outra classe de
pessoas, que viverá com os meios suficientes para desfrutar de uma vida sem
grandes dificuldades.
A
divisão entre ricos e pobres sempre existiu e tem-se mantido, o que não
significa que tal situação deva ser a regra, pelo contrário, uma maior
aproximação entre eles é que seria desejável, como norma. Esta reflexão,
apoiada, não significa: erradicar os ricos, ou retirar-lhes o que pelo esforço
próprio, pelo risco, pela boa administração e pelo investimento direto
conseguiram obter, por processos legais e justos; pretende, outro sim, reduzir
o número de pobres, criando-lhes condições e incentivando-os ao trabalho, à
poupança, ao estudo e valorização pessoais, ao investimento moderado e, numa
primeira fase, sem risco, precisamente para os aproximar das classes médias e,
preferencialmente, das mais altas.
É certo
que poder-se-á argumentar que muitos pobres estão nesta condição, por culpa
própria, porque não têm sabido, ou querido administrar com parcimónia os
recursos que vão auferindo, preferindo viver acima das suas possibilidades
económico-financeiras, ou apostando nos benefícios de um Estado-Providência, ou
ainda esperando a solidariedade dos seus concidadãos.
Outros
estarão nesta situação de pobreza, porque a vida não lhes terá proporcionado
melhores oportunidades, ou mesmo que as tenha oferecido não foram detetadas, ou
então, tais oportunidades, foram mal utilizadas, com a agravante de
circunstâncias diversas como: a doença, o desemprego, acidentes, catástrofes
naturais terem destruído, no todo ou em parte, o respetivo património familiar,
empresarial ou outro.
Finalmente,
outras situações podem ocorrer que facilitam a pobreza, pela intimidação,
repressão, obscurantismo e escravatura do povo, nomeadamente através de
reformas políticas ditatoriais, mesmo em países muito ricos em recursos
naturais, nos quais existe uma elite dominante, próspera e poderosa, que domina
uma imensa multidão de proletários, pedintes e marginalizados.
Em
qualquer uma das situações mencionadas, poder-se-iam apontar países, classes
dominantes e dominadas, atividades e processos conducentes à riqueza e os
suportes legais, precisamente elaborados, geridos e controlados por uma classe
influente de governantes. e grupos económicos muito poderosos, todavia, a
indicação dos países, das classes/elites e outras circunstâncias, favoráveis a
determinadas situações, são bem conhecidas de qualquer pessoa medianamente
informada, além de não se pretender ferir a dignidade, nem a vulnerabilidade
daqueles que sofrem os efeitos negativos das desigualdades: os pobres, os
marginalizados, os excluídos por qualquer preconceito.
Viver
bem com sabedoria depende: tanto das elites governativas, e/ou detentoras dos
recursos; como também de cada indivíduo, enquanto pessoa e cidadão,
singularmente considerado, e/ou organizado em diversas associações, legalmente
constituídas, responsavelmente dinâmicas e suficientemente competentes.
É
evidente que em nenhuma parte do mundo, em nenhum país específico, é possível
que todos os seus membros sejam ricos, mas afigura-se viável e imperioso que se
reduza o número de pobres, sem ser necessário tirar aos primeiros para se dar
aos segundos.
A
solução para diminuir as desigualdades, e aumentar a estabilidade mundial
passa, justamente, por uma maior igualdade de oportunidades de acesso aos
diversos serviços, e bens disponibilizados: pelo Estado, pelas empresas,
associações e pela sociedade civil, esta aqui entendida como todos os cidadãos
que não integram o aparelho da administração pública.
Viver
bem com sabedoria: pressupõe o envolvimento de toda a comunidade,
proporcionando um crescimento equitativo e sustentado; implica, uma melhor
repartição das riquezas e recursos naturais e produzidos através da comparticipação
de todos; exige, o estabelecimento de critérios objetivos na aplicação das
contribuições da população por forma, justamente, a favorecer os que mais
precisam, investindo em infra-estruturas que promovam maior qualidade de vida;
postula, uma política de verdadeiros incentivos ao estudo, ao trabalho, à
poupança, numa perspectiva de autonomia e constituição de um futuro melhor;
finalmente, impõe, que sejam tomadas medidas concernentes à maior estabilidade,
pacificação política e social, respeito pela dignidade da pessoa humana,
qualquer que seja o seu estatuto, social, profissional, político, religioso ou
outro.
Pede-se
aos detentores do poder decisório, político, judicial, religioso, empresarial e
qualquer outro, conjugação de esforços, sabedoria para congregar as boas
sinergias e converte-las em soluções ecléticas, que conduzam à estabilidade, ao
progresso, ao fim das desigualdades.
Apela-se
aos indivíduos, famílias e grupos organizados que abdiquem de posições
egocêntricas, exacerbadamente individualistas e adotem: a virtude da partilha,
da prudência e da sabedoria, considerando que: «A maior ameaça à estabilidade global reside na desigualdade entre os
que têm e os que não têm. Precisamos de crescimento, pelo menos o suficiente
para que os que não têm transponham o fosso, pois ninguém acredita que os ricos
se disponham a dar o que têm. A continuação da desigualdade levar-nos-á sem
dúvida tanto a desastres naturais (fome, epidemias) como ao conflito armado. O
problema consiste, pois, em conduzir o crescimento de forma adequada, ajudando
os pobres a libertarem-se da armadilha da miséria, através da transição
demográfica. Só depois de o conseguirem, poderemos encarar de forma optimista
qualquer viabilidade de um futuro melhor.» (GRIBBIN, 1999:312).
Bibliografia
GRIBBIN,
John, (1999). Génesis. As Origens do
Homem e do Universo. 2ª Ed. Tradução, Raul Sousa Machado. Mem Martins:
Publicações Europa América.
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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