A genuinidade filosófica, com que se pode abordar
determinados temas da vida humana, é compatível com a invocação de
lugares-comuns, quantas vezes, autêntica sabedoria popular que, ao longo dos
séculos, vem resistindo a destacadas mentalidades técnico-científicas, ou aos
círculos intelectualizados das elites académicas e políticas. Afirmar-se que a
Filosofia é a ciência da vida, no seu sentido mais profundamente socrático do “Conhece-te a ti mesmo”, poderá parecer
mais um lugar-comum, sem qualquer interesse para o conhecimento
técnico-científico positivista.
Defender-se que a Filosofia é essencial para a
educação da pessoa humana, em ordem ao governo da Polis, pode conduzir a conotações arquetípicas, coevas do regime
político de Atenas, da Grécia Antiga e, portanto, sem interesse para esta
humanidade de início de mais um século e milénio, porque estamos a meio da
segunda década e, infelizmente, parece que se abandonou a reflexão no sentido
do bem-comum.
Assumir a
apologia da Filosofia como disciplina nobre, de orientação e rigor para o
pensamento humano, pode revelar-se pretensioso ou subjetivo e, uma vez mais,
sem interesse para as doutrinas positivas e materialistas deste novo tempo, que
teimam em se consolidar através de acentuados individualismos.
Quaisquer que sejam as posições assumidas, em
relação à indispensabilidade do estudo, reflexão, aprofundamento e práticas
filosóficas, a realidade que atualmente se vive, em todo o mundo, relativamente
a inúmeras situações inumanas, no mínimo, aconselham a que se desenvolva um
debate profundo, sério e leal, aos níveis intercomunitário, interpessoal e
introspetivo, a fim de se identificar algumas das causas (outras já estarão
inequivocamente sinalizadas, como a desigualdade, a fome, a doença, a guerra)
que têm conduzido ao mundo da conflitualidade, de violências várias, de
exclusão de muitos, por parte de alguns, em que hoje a sociedade universal se
encontra.
Implementar a todos os níveis escolares, e ao longo
da vida, uma filosofia para a educação da inclusão, é um objetivo que qualquer
político, governante, empresário, religioso, pessoa individual, sensibilizados
para estas questões, devem propor-se atingir, quando assumem funções executivas
e/ou deliberativas ou, simplesmente, no contexto de uma cidadania ativa.
Filosofia da educação, também da formação, para uma
sociedade inclusiva, poderá significar um projeto ideal que norteará todo o
processo de socialização do indivíduo ao longo da sua vida. Até caberia, aqui,
invocar, por exemplo, a responsabilidade social do Estado, das Empresas e do
Cidadão.
O mundo precisa do contributo dos cientistas e dos
técnicos nos respetivos domínios, como necessita da axiologia, da ética, da
moral, da deontologia, da educação, da cultura e da dimensão social do homem: «A educação é, portanto, fundamental para a
socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a
vida toda e não se restringe à mera continuidade da relação, pois supõe a
possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz
história.» (ARANHA, 1996:18).
O ser humano, por sua própria natureza, beneficia
das suas capacidades específicas, que as pode colocar ao seu serviço, no
sentido mais inclusivo do termo, isto é, desenvolver todas as suas
potencialidades para fugir ao isolamento, porque ele sabe que não terá
hipóteses de vida humana, excluindo-se do relacionamento e convivência com os
demais seres seus iguais. Aqui começa toda a caminhada do seu progresso, da sua
grandeza e da sua aproximação ao Criador.
A humanidade ainda terá de fazer um longo percurso,
até atingir um estado de total inserção dos seus membros, na sociedade em que
todos se integram, e nas dimensões que lhes são mais específicas, de entre elas
a inclusão: religiosa, política, social, laboral, económica, cultural e
universal.
Não pode haver barreiras físicas, geográficas,
sociais ou outras, que impeçam o homem de se relacionar, conviver, produzir e
aprender com os seus semelhantes, em qualquer parte do mundo que todos habitam,
porque este mesmo território universal não foi criado e oferecido a nenhum
grupo humano em particular.
Defender uma filosofia da educação a par de uma
formação contínua, para a globalização da inclusão é um imperativo universal,
justamente num tempo em que muitas atividades e situações começam a ser
globalizadas.
Hoje, um projeto desta grandeza e repercussões,
pode parecer utópico, porém, quem garante que a médio e longo prazos a
globalização da inclusão não seja reconhecida como uma forte solução para a
maioria dos problemas atuais?
Bibliografia
ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed.
São Paulo: Moderna.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de
Portugal
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