Pai: Onde Estás?- Diamantino Bártolo



As instâncias competentes internacionais, a propósito da celebração universal do “Dia do Pai”, decidiram que o dia 19 de março de cada ano seria dedicado ao Pai, a todos os Pais, homens, possivelmente, biológicos, adotivos ou por qualquer outra forma legal e legítima, no mundo inteiro, porque na cronologia hagiográfica, aquela data é consagrada a S. José que, juntamente com Maria, serão os Pais adotivos de Jesus.
Todos os anos se homenageiam os Pais, homens, em geral e, em cada família, em cada comunidade o Pai, em particular, sendo certo que este papel notabilíssimo, que alguns homens desempenham, nem sempre é assumido com todas as componentes afetuosas, carinhosas e materiais que implica, designadamente: amor, educação/formação, respeito, responsabilidade para com os filhos.
Ser Pai não é sinónimo, apenas, de ter um filho biológico, ou adotivo, de ter sido parceiro, numa relação sexual, da qual resultou o nascimento de uma criança que, depois, é necessário apoiar, incondicional e permanentemente, ao longo da vida. Ser Pai pressupõe a garantia de um total envolvimento, cumplicidade e proteção, igualmente, a transmissão de conhecimentos, de boas-práticas, de princípios, de valores, de sentimentos e dos melhores exemplos.
Neste “Dia Pai”, não é possível ignorar a imprescindibilidade das funções da Mãe que, naturalmente: sendo relativamente diferentes das do Pai, nalguns casos; e, substancialmente diversas, noutros, elas se complementam, numa tal harmonia e comunhão de objetivos, que os filhos virão a beneficiar, ao longo da vida, desejavelmente, para o bem, para o sucesso deles.
Independentemente do modelo de família: tradicional – um homem, uma mulher -, monoparental, de adoção, de acolhimento, institucional, homossexual, entre outras eventuais possibilidades, o importante é que os superiores interesses: deveres e direitos, da criança, do adolescente, do jovem, do “diferente”, estejam sempre assegurados e, se possível, em permanente melhoria.
E se é certo que, cultural e tradicionalmente, nas diversas sociedades, a educação e a formação dos filhos para a vida, não depende só dos Pais, mas também dos sistemas educativos, culturais, hábitos, tradições, hierarquização profissional histórico-familiar, entre outras condicionantes, também é verdade que sem o apoio motivador e material dos Pais, será muito difícil que os filhos consigam elevados níveis e qualidade de vida.
O mundo está a mudar vertiginosamente, quanto: aos valores, objetivos e meios para os alcançar; as mentalidades de hoje pautam-se por novos e diferentes interesses, dos de antanho, admitindo-se que os conflitos vão continuar, ainda que: cessando numas regiões, porém deflagrando noutras. As consequências que podem resultar da utilização de meios bélicos, cada vez mais sofisticados e mortíferos, ainda não são totalmente conhecidas, porque a seguir à bomba de hidrogénio, provavelmente, outras mais potentes já estarão em construção e/ou prontas para ensaio.
O Pai, tal como a Mãe, tem a obrigação de preparar os filhos para estas realidades e, simultaneamente, transmitir-lhes uma base axiológica sólida para que, um dia, estas crianças, adolescentes, jovens e depois adultos, tenham referências: não só para organizarem as suas próprias vidas; como também, quando no exercício do poder, as possam implementar na comunidade em que se inserirem.
O papel do Pai que não é, portanto, nada despiciendo, pelo contrário, a influência, mais ou menos profunda, que pode vir a exercer no futuro da vida dos filhos é decisiva, para o sucesso pessoal, profissional, espiritual e material dos mesmos, apenas com um pequeno detalhe: os filhos também têm o dever de apoiar os pais, desde logo acatando a sua autoridade, conselhos e orientação, porque sem esta colaboração dos filhos, por mais que os pais se esforcem, jamais aqueles alcançarão o êxito na vida.
Provavelmente, em muitas famílias, as tarefas do Pai e da Mãe serão diferentes, relativamente aos filhos e às filhas, sendo compreensível, talvez desejável que: a Mãe desenvolva, e transmita, determinados conhecimentos para com as filhas; e o Pai para com os filhos. É uma questão de ajuste de compatibilidades e também maior à-vontade.
Neste “Dia do Pai”, importa debruçarmo-nos, um pouco mais, sobre determinadas situações críticas, nas quais o Pai, infelizmente, em muitas famílias, é a figura central, tristemente, o principal protagonista, pelo péssimo comportamento e maus exemplos que comunica aos filhos, a partir do exercício: indevido, injusto, ilegítimo e ilegal de violência doméstica, em todas as suas diferentes facetas.
Fazer um “Ato de Contrição” por parte dos pais, homens, que procedem de forma censurável e inaceitável, pode, para começar, ser uma atividade de grande coragem e reconhecimento dos erros cometidos. Talvez este seja o dia indicado para que pais, homens, insensíveis, violentos e sem sentimentos de amor e afeto pelos filhos, e também pelas mães dos seus filhos, comecem uma nova vida junto dos seus descendentes, dando-lhes tudo o que podem, eles merecem e têm direito.
O “Dia do Pai” deve, portanto, ser um período de profunda reflexão: quer para o Pai; quer para os filhos; quer também, e por que não, para a Esposa/Mãe, no sentido de aprofundar conhecimentos, boas-práticas, analisar comportamentos, valores e sentimentos, para que se corrija o que tem estado mal, ou menos bem.
Atualmente, grande parte das tarefas domésticas são desempenhadas, repartidamente, tanto pela Mãe como pelo Pai, muito embora, presumivelmente, a esposa consiga melhores resultados em determinadas lides e o marido noutras e, ainda, em algumas, apenas a Mãe consegue realizar, nomeadamente, amamentar, naturalmente, os filhos.
É interessante examinar o empenhamento com que muitos Pais, homens, se envolvem nas funções que beneficiam o bem-estar dos filhos, promovem a autoestima destes, e contribuem para um futuro bom e estável, particularmente, no sentido da saúde, educação, formação, emprego e habitação. Estes são os Pais, homens, que assumem, responsavelmente, a paternidade e que, felizmente, assim procede a maioria deles.
Neste dia consagrado ao Pai, também não se pode olvidar aqueles Pais, homens, que, em dado momento, pelas mais diversas razões, não conseguiram acompanhar os seus filhos, deixando-os entregues aos cuidados da Mãe e, na maior parte dos casos, também, dos avós maternos, naturalmente com eventuais danos para os superiores interesses destas crianças, pelo menos quando não havia qualquer tipo de violência doméstica.
O mais grave, é, talvez, o abandono dos filhos, depois de profundas perturbações familiares, desde a violência, nas suas diferentes formas, à negligência, quanto à dádiva de amor e afetos, cuidados adequados e outras dimensões espírito-sentimentais, a que se segue a negação de qualquer apoio material para sustento, cuidados médicos e medicamentosos da criança, educação e formação. O Pai que abdica dos filhos, naquelas circunstâncias, de facto não reúne condições para educar os seus descendentes.
Estes Pais, homens, indiscutivelmente irresponsáveis, desamorosos, deveriam ser severamente punidos, por isso, este é o dia indicado para que quem governa reflita nestas situações, melhorando as leis de proteção das crianças, de contrário o futuro do mundo ficará, irremediavelmente, comprometido, porque as crianças são o maior tesouro da humanidade.
Dia do Pai, apenas um dia por ano, o que significa que para muitos filhos e pais, os restantes trezentos e sessenta e quatro dias, uma parte significativa daquelas pessoas – Pais e Filhos –: se esquecem muitos deveres e direitos; não se manifestam sentimentos e emoções; não há lugar para as ofertas e presentes, materiais e/ou afetivos.
É um dever de paternidade exercer, todo o ano, as sublimes e autênticas responsabilidades de Pai, como é um direito dos filhos, também um dever, receber do Pai e da Mãe, todos os cuidados e, por outro lado, cabe aos filhos amarem, respeitarem e apoiarem os seus pais, quando estes mais necessitam na vida.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal











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