O título da reflexão presta-se, perfeitamente, a uma pergunta que
se pode colocar a qualquer pessoa. Analisada a epígrafe, sem mais pontuação,
pode conduzir a várias interpretações, algumas das quais, a que se pretende
ligar a uma fraqueza do género masculino, segundo a qual: “Chorar é próprio das mulheres”. Várias são as circunstâncias
que, tal como na mulher, também levam um homem a chorar.
Se se der
por adquirido, que as mulheres choram mais facilmente do que os homens, isso
significaria que elas são mais sensíveis, mais sentimentais e mais vulneráveis?
Neste caso as mulheres quando choram, constituem a regra e os homens a exceção?
É verdade
que se ouvem muitos homens a dizer que não choram, que por isso mesmo são
fortes, que não são piegas, que não se comovem facilmente. Será que tais homens
não têm sentimentos, (se bem que o não chorar não significa, necessariamente,
falta de sentimentos), mesmo em situações-limite, ou é apenas uma “capa” de
pseudovirilidade?
Pensa-se
que, cada vez menos, o homem não deve ser exceção, mas, pelo contrário,
integrando a regra. De resto, aceito, sem quaisquer complexos, que chorar pode
significar um forte sinal: de emoção, de sensibilidade, de alegria, de
tristeza, em circunstâncias bem definidas.
Naturalmente
que pelo facto de um homem chorar, perante uma determinada situação da sua
vida, ou em face de grandes acontecimentos, e outro não ter igual
comportamento, isso não significará que um tem sentimentos e o outro é
insensível. Cada pessoa reage de forma diferente, a acontecimentos idênticos.
A sociedade
preconceituosa ainda ridiculariza o homem que chora, pelo menos quando não
conhece os motivos que o levam a chorar (praticamente, excetuam-se aqui a morte
de um ente querido, a doença grave de um familiar ou de uma amigo, a perda de
emprego, a indiferença de um amigo que se considerava leal ou atitudes que
magoam e humilham, entre outras situações).
Mas o homem
também tem sido culpado quanto a alimentar tal preconceito, na medida em que
ele foge à exposição pública do choro e, muitas vezes, chora às escondidas, em
privado, porque tal comportamento lhe tem sido incutido por uma cultura
machista, ou seja, “um homem que chora, é
fraco”
A
inexistência de estudos científicos, sobre a fundamentação que explica as
razões do homem chorar, para além das abordagens empíricas, deixa margem para
diversas interpretações, umas favoráveis, no sentido de que ao homem se
reconhece iguais razões para chorar, tal como à mulher; outras que apontam a mulher
como mais vulnerável ao choro, desde logo pela sua constituição maternal.
A dimensão
sentimental, na mulher e no homem, não pode ser quantificável em função do
género, de maior ou menor sensibilidade, respetivamente. Mulher e homem fazem
parte de um todo que se conjuga em plenitude, que ambos sofrem e se alegram nas
diversas situações da vida, aliás: «Ante
as lágrimas de um homem, toda e qualquer mulher é mãe, aninhando no seu ventre
aquele que, ao chorar, transforma-se em doce e indefeso menino.» (Autor
Desconhecido)
Considero
que chorar é uma reação muito sentida, algo que nos atormenta ou nos alegra. Em
qualquer das situações, é a expressão máxima de sentimentos, que ultrapassam,
quase sempre, a racionalidade de uma sociedade facciosa, insensível, egoísta e
materialista. Aceito a máxima, segundo a qual: “Razão sem sentimento poderá ser fria; sentimento sem razão, é cego.”
Quem
ridiculariza um homem que chora, pode revelar, desde logo, ser uma pessoa
empedernida, autoconvencida de possuir valores exclusivos do seu próprio género
(feminino ou masculino), e não universais, demonstrará ser uma criatura incapaz
de compreender situações e problemas alheios, uma pessoa que, pretensiosamente,
deseja enquadrar-se num determinado grupo que eu diria “pseudo-estóico” A
família, a comunidade e o mundo, poderão dispensar pessoas com tais
características.
O homem que chora, que
vive sentimentos próprios, e sente no espírito a dor, as emoções alheias, os
problemas, que reconhece a sua incapacidade, momentânea, para os resolver, ou
que depois de resolvidos se emociona e chora, demonstra que está no caminho
certo, porque: «Poucas coisas são mais tristes, belas e comoventes que ver um homem
chorar. Isso não quer dizer que o choro de uma mulher não seja importante; mas
é comum. A mulher chora por grandes motivos, mas também porque quebrou a unha,
porque o namorado mandou flores, porque o chefe está bravo, porque o mocinho
venceu tudo e conseguiu ficar com a mocinha no final, porque, porque, porque.
A mulher não necessita esconder emoções para ser respeitada e
quando, por algum motivo, precisa engolir o choro, sente a boca salgada - as
lágrimas escorrem pela garganta. O pranto de um homem revela que a emoção,
implacável, rompeu as comportas do machismo e desce então em incontroláveis
corredeiras. O homem chora quando se incendiou a casa, quando desempregado
há meses, quando sai o gol na final - não importa qual rede balance.
Chora quando nasce o filho. Quando morre o filho. Chora
quando filho.
Se o homem chora perante um amigo, o momento é
solene e é segredo. Só os verdadeiros amigos podem contemplar a lágrima de um
homem.» (CLEITON J.,
in: https://br.answers.yahoo.com/question/ index?qid=20090517112949AAFysZ2, 01.05.2019)
Ao longo da
vida, e com o decorrer desta, naquela idade mais experiente, mais prudente, e
mais sábia, as emoções são mais fortes, porque olhando-se para trás,
verifica-se que muitas situações ficaram por resolver, ou foram mal resolvidas
e, perspetivando-se o futuro, conclui-se que o tempo disponível será cada vez
menos.
A angústia
aperta, a emoção como que nos sufoca e o choro é inevitável. Na verdade, concordo
que “só um homem verdadeiro poderá
mostrar suas emoções. Não vejo nada de errado quando um homem chorar. Ele está
mostrando seus sentimentos interiores.”
Os caminhos
da vida levam, muitas vezes, a situações verdadeiramente incontroláveis, onde
as mais diversas e inacreditáveis condições surgem, sem que, num determinado
período de tempo e espaço definido, seja possível encontrar uma solução.
Aqui, os
alegados “amigos” não comparecem, mas os verdadeiros, aqueles que sentem por
nós um sincero “Amor-de-Amigo” são os
que, realmente, nos ajudam, com o que têm e o que não têm. Com estes amigos,
sejam homens ou mulheres. Se é certo que chorar faz bem, enquanto alívio para
as mágoas, não é menos verdade que o homem, enquanto pessoa, dotada de
sentimentos, igualmente, e tal como na mulher se entristece, sente bem fundo na
sua consciência, alma ou espírito, as palavras, atitudes e os comportamentos
que lhe são dirigidos e, tanto mais magoam, quanto maior é a amizade de quem as
provoca.
É verdade
que em muitas circunstâncias o homem não chorará em público: umas vezes por
vergonha; outras porque consegue reprimir o choro, todavia, quando a tristeza é
bem profunda, quando a dor é muito intensa, ele acaba por manifestar essa
dimensão, tão nobre, quanto outra igualmente sublime.
Sim,
porque: «Um homem que pode chorar, é um
homem que não tem medo de saber o que sente. Um homem que pode chorar é um
homem que pode se atrever a mostrar o que sente. Um homem que pode chorar sabe
que os sentimentos vêm em tez mais clara e escura. Um homem que pode chorar é
um homem que reconhece a sua própria vulnerabilidade.» (CHODRON, 2007).
O homem não
é mais forte nem mais fraco do que a mulher, apenas poderá reagir de forma
diferente, seja em circunstâncias iguais, ou diversas. Considero muito digno
que o homem chore quando não consegue reprimir certos sentimentos e os revela
através do choro, e muito lindo quando nesta convulsão é assistido, consolado e
fortalecido por uma mulher: seja esposa, amiga, colega. O contrário é
igualmente maravilhoso.
Portanto,
quando um homem chora, ele está a revelar emoções e sentimentos bem profundos:
sejam de gratidão, de amor, de amizade não correspondida, num contexto de “amor-de-amigo”, de ausência de carinho,
de atenção, de indiferença e/ou afastamento do amigo, de atos que magoam e
humilham, de preocupações que ainda não conseguiu superar, de incapacidade para
resolver certos problemas, mas que, na verdade, até podem não constituir
qualquer vergonha, bem pelo contrário.
Quando um
homem chora, algo de extraordinário estará a ocorrer na sua vida. O,
aparentemente, simples facto de chorar, por si só, já constitui uma reação de
grandeza, de nobreza de caráter, de humildade e, quantas vezes, de exposição
sentimental.
A vida sem
sentimentos, sem emoções, sem amizades autênticas, solidárias e leais, sem
cumplicidades, atitudes carinhosas, sem princípios e valores, enfim, sem as
relações que simbolizam o verdadeiro e incondicional “amor-de-amigo”, provavelmente, não teria sentido.
Uma vida
vazia de sentimentos, excessivamente racional, materialista, calculista e
indiferente à amizade, à lealdade, à gratidão, à humildade e à cumplicidade com
o amigo, aos sucessos e fracassos do amigo, será, eventualmente, uma vida
sofrida, isolada, não partilhada, insegura.
Por isso,
quando um homem chora é bom, porque também revela, justamente, a sua grandeza
de alma, a sua dimensão humana, a sua entrega a uma causa, de alegria ou de
tristeza, sente e vive no mais “fundo do seu coração” uma determinada situação,
com a qual está solidário.
Bibliografia
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis.
Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
CLEITON J., (2007). Você se emociona mais ao ver um
homem ou uma mulher chorar? in http://br.answers.yahoo.com/question/ index?qid=20090517112949AAFysZ2, Consultado em 01.05.2019)
THINKING, (2010). Vale mais um inimigo sábio que um amigo ignorante? in: https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070418191907AAQT8RX consultado em 01.05.2019).
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
NALAP.ORG
TÍTULO
NOBILIÁRQUICO DE COMENDADOR, condecorado com a “GRANDE CRUZ DA ORDEM
INTERNACIONAL DO MÉRITO DO DESCOBRIDOR DO BRASIL, Pedro Álvares Cabral” pela
Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística
http://www.minhodigital.com/news/titulo-nobiliarquico-de
DOCTOR HONORIS
CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la
Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.
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