Amazónia vai ardendo, o dia implora e a noite chora o planeta perdido. Que raça transporta tanta soberba, ganância, desgraça e maldade? Eu homem, poeta vencido, choro arrependido…. pois sou um dos males… pertenço à humanidade. Perante o inferno de Dante, lágrimas de emoções vão caindo no manto cinzento das desilusões.
O tempo passa sem pressa
e o relógio zune
num tic-tac, marcante,
segundo a segundo,
ritmado na indiferença
do som da resignação.
Um brado urdido
de loucura impune,
soa na displicência!
É a indiferença do mundo,
nos andrajos da Amazónia
do nosso coração.
Uma árvore em chamas fincou-se na minha alma, os ramos se agitam num adeus à vida. Sou demanda incontrolada da tristeza que me assola o peito. O tempo segue e o fogo desenha caos no cenário das desolações.
Tudo arde por entre estertores
de um vento forte.
E eu aqui estou!
Porque escrevo e grito!
Aonde estão os homens
sábios e de valores?
Tu que passeias a indiferença,
és cinza e morte.
E eu, sou um fraco poeta,
apenas aprendiz de um mito.
Uma voz, um brado na descrença,
afunilado no fumo dos horrores.
Na Amazónia o hálito do fogo forte, fumito e tenebroso, devora o verde rasgado, retocando as cores da terra com sombras e escuridão. A ganância é flagelo silencioso que percorre a senda das devastações.
E tu homem,
poeta, escritor
que escreves sem rimar,
solidariedade,
com outras frases
de sentido profundo.
Aponta o outro, o homem,
aquele dos discursos de ardor,
pirómano das palavras fáceis,
líder da meia verdade.
O Nero, que vai mutilando
o pulmão do mundo.
As lágrimas secas e os gritos cansados, que vingaram na dor aprestam-se a sair. Sou um ser envergonhado….. no espelho estilhaçado me oculto. Condenado às terras sombrias, nos nove círculos de Dante empurre pedras pesadas por túmulos flamejantes. Conformado nas últimas labaredas das emoções, afoguei o dever e as razões.
João Murty
(Foto - Internet)
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