Assim nasce uma escritora- Irene Coimbra

Tudo começou quando ela resolveu escrever um livro.   Alguma coisa lhe dizia que o livro faria sucesso e ela acreditou. Escreveu o livro.
Enviou para seis editoras de São Paulo. Três devolveram, dizendo que o livro não se aplicava à Literatura Infanto-Juvenil.  Uma pediu um prazo de quarenta e cinco dias para análise. Outra não se manifestou e uma outra disse que de três a seis meses, daria uma resposta.
Impaciente e seguindo sua intuição, decidiu partir para uma produção independente. Não tinha dinheiro. Seria possível? Foi. Uma editora de poucos recursos, mas com um editor sensível, acreditou nela e o acerto foi estabelecido: quinhentos exemplares. Total a pagar: um mil e oitocentos reais, fora a capa. Importância dividida em seis parcelas iguais de trezentos reais.
O livro ficou pronto, mas faltava a capa. Mais uma vez sua intuição lhe dizia que ela mesma seria capaz de fazer a capa. E ela acreditou. Depois de mais de uma semana de tentativas, de acertos e erros, concluiu o trabalho de montagem e a capa ficou pronta. Um grande olho que parecia captar tudo.        Agora era o momento da impressão da capa. Computador ligado. Impressora HP pronta para entrar em ação. Tempo de impressão de quinhentas capas: uma semana!
Finalmente, capas saem correndo para a Editora, muitas com falhas, por serem fruto do trabalho de uma principiante.
O lançamento do livro é marcado: 27/06/97, oito horas da noite. Quinhentos convites são enviados. A dona da livraria onde será feito o lançamento do livro, lhe diz:
- Prepare-se. Não fique muito otimista. Um escritor mandou mil convites e só apareceram seis pessoas.
- Que horror!!!
E aí começa a aflição.
Apela para o telefone e começa a “convocar” os convidados. Para alguns chega a ligar duas vezes para reforçar a convocação. As funcionárias lhe garantem que mais de seis pessoas aparecerão: elas, suas famílias, os namorados e mais algumas pessoas que serão “intimadas”. O esquema está pronto. Mas, que tal se a televisão aparecesse por lá? Liga para o SBT. Não existe equipe de reportagem na cidade. Liga para a concorrente:
- Equipe de reportagem, por favor.
- Quem gostaria de falar?
- Ana Alice.
- Sou da equipe de reportagem.
E ela, na pele de Ana Alice, diz convincente:
- Amanhã, às oito horas da noite, nas Livrarias Paraler, do Ribeirão Shopping, haverá o lançamento de um livro de uma escritora muito importante. Estejam presentes para fazer a cobertura, por favor. Obrigada.
Desliga sem dar tempo de mais perguntas.
               Dia 27/06/97, oito e dez da noite, chega a escritora, Ilustre Desconhecida. Começa a Noite de Autógrafos.
Os amigos do peito já estão de plantão na fila. Todos com seu livro na mão.
Começa a noite de autógrafos!
Uma equipe de reportagem da TV chega para fazer a cobertura. Não reconhece nenhuma pessoa importante.
Para disfarçar o desapontamento focaliza, não seus livros, mas outros que já são bastante conhecidos. Ignora, completamente, a escritora que, de cabeça baixa, escreve uma dedicatória de página inteira, à amiga que está à sua frente.
A dona da livraria aproxima-se e diz:
- Não entendi o que esse pessoal da TV veio fazer aqui.
Com um olhar cúmplice para sua auxiliar, responde:
- É, esse pessoal é meio “lelé”.
O primo, que a tudo filmava, filmou também aquele momento.  E, assim, com “Pedaços de um Diário”, nasce uma escritora.

Irene Coimbra


















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