Ao longo da vida, sempre haverá um ou outro período, em que o ser humano procura conquistar o seu “pedacinho” de FAMA, porque ele deseja alcançar o reconhecimento, a notoriedade, o protagonismo e o estatuto de figura pública, mesmo que à custa da privacidade da vida pessoal, individual e/ou familiar. É como que atingir o pico da satisfação das necessidades básicas, constantes da pirâmide de Maslow.
O estatuto de “famoso”
é cobiçado por muitas pessoas, que tudo fazem e se sujeitam a situações, por
vezes, de difícil compreensão e aceitação públicas, porque ser famoso pressupõe
a possibilidade de abertura de oportunidades diversas, seja para um emprego,
seja para participar em eventos interessantes, seja para mover influências.
É claro que a FAMA tem as suas vantagens e também
inconvenientes, mas para quem a procura, certamente que do seu ponto de vista,
os benefícios superam os prejuízos, de resto, “tudo tem um preço na vida” e “não
há bela sem senão”. A FAMA alimenta, desde que moderadamente utilizada, a autoestima,
pode contribuir para: treinar, aprofundar, rentabilizar e consolidar certas
faculdades humanas, proporcionando um crescendo de potencialidades que ampliam
a projeção da pessoa.
Concorda-se que a FAMA, perspetivada no bom
sentido, implica responsabilidades acrescidas para a pessoa famosa, desde logo
assumir exemplarmente um conjunto de regras, princípios, valores e sentimentos
que, na vida prática, devem ser exercitados, na medida em que a análise que
resulta da opinião pública em geral, e da família em particular, tanto pode
elogiar e defender a pessoa famosa, como destroná-la do pedestal para que foi
elevada.
Os olhos da família, dos amigos, de uma
instituição, de uma população, do mundo, ficam fixados na pessoa famosa, à
espera de a ver confirmar o mérito da FAMA ou a desilusão que o comportamento
dela, em determinada altura, provoca. A FAMA conduz muitas vezes a extremos de
difícil controlo.
Crê-se, portanto, que é essencial ser-se famoso,
notável, considerado, estimado e querido, na Família, na Amizade,
na Meditação e na Ação. Estas quatro vertentes da
vida humana, constituem a sigla “FAMA”, porque é sobre esta FAMA que se
pretende refletir e, seguramente, que se alguém conseguir desenvolver,
corretamente, aquelas dimensões humanas, considerar-se-á famoso e a
notoriedade, a respeitabilidade e o prestígio serão reconhecidos nos seus
correspondentes contextos.
A FAMA que aqui se deseja abordar, talvez não seja
a que é pretendida por muita gente, talvez seja a que mais importa à felicidade
individual e coletiva, porém, esta FAMA é muito mais difícil de se conseguir,
porque as quatro vertentes necessárias, obviamente, entre muitas outras
possíveis, não são acessíveis a todas as pessoas, porque para se ser famoso, objetivamente:
na família, na amizade, na meditação e na ação, torna-se indispensável aceitar,
demonstrar, defender e praticar um elevado número de princípios, valores e
sentimentos.
A primeira letra da sigla “FAMA”, vamos, então,
aplicá-la à “Família”.
Ser famoso no seio da família é extremamente
complexo e exigente. Partindo do princípio, segundo o qual, todos temos e
pertencemos a uma família, seja nuclear, extensa ou monoparental, é verdade
que, no mínimo, já pertencemos a uma instituição milenar e que, nesse quadro,
nos foram pedidas responsabilidade, no cumprimento de deveres, mas também na
fruição de direitos e que, em função do nosso comportamento e resultados, assim
fomos avaliados.
A família, sociologicamente considerada, será,
porventura, o embrião da sociedade. Na família se praticam as melhores e as
piores ações; se alcançam bons e maus resultados; tanto somos amados como
odiados. Na família podem ocorrer as mais incríveis situações, tal como na
sociedade. Há quem afirme que: “Quem não
é na família; não é na sociedade”, ou seja, um mau filho, pai ou qualquer
outro parentesco, assim se poderá refletir na sociedade.
Evidentemente que, na perspetiva pessoal do autor,
a família é uma instituição que urge preservar a todo o custo, à qual se deve
dedicar toda a atenção, prestar os maiores apoios, nestes se incluindo um forte
incentivo à natalidade. Atendendo ao já prolongado e crítico tempo de crise,
pode-se afirmar que são as famílias que estão a suportar a sobrevivência de
muitos dos seus membros: pais que ajudam filhos desempregados, doentes e em
situações difíceis; avós que custeiam despesas dos netos e vice-versa.
A solidariedade familiar em particular, e a
sensibilização da sociedade para auxiliar os mais carenciados, têm sido a “almofada” financeira do Estado, apesar de
este não contemplar medidas concretas no seu programa de ação, para atenuar
tanta e tão injusta austeridade que, realmente, atinge as famílias de menores
rendimentos, precisamente as que nem conseguem defender-se.
Ser famoso no seio da família é um grande feito, porque
isso implica estar disponível para assumir diversas responsabilidades: a
começar na amizade/amor familiar, a ajudar em todos os domínios, a proteger, a
preocupar-se com a saúde, como o trabalho, com a habitação, com a educação dos
familiares, a contribuir para um mínimo de dignidade, de autoestima e de
valorização da pessoa humana. É muito difícil ser-se famoso com tantas e
complexas exigências, disponibilidade permanente para a abertura, para a
entrega, para a dádiva generosa, espiritual e material para com os familiares.
Na perspectiva da “Amizade”, segunda letra da sigla FAMA é, igualmente, um
requisito que envolve um dos mais nobres sentimentos humanos. Ser famoso na
amizade, entendida como o amor, este nas suas diferentes naturezas – conjugal,
paternal, filial, enfim, parental, mas também entre amigos, profissionais,
colegas e, ainda, noutros contextos da vida societária.
O amor, qualquer que seja a sua natureza, envolve
imensos princípios, regras e valores, designadamente: solidariedade, lealdade,
frontalidade, crítica construtiva, opiniões, conselhos, reciprocidade. O
verdadeiro amigo não esconde os seus pensamentos, as suas críticas, as
sugestões, a compreensão e a preocupação pelo bem-estar e felicidade do seu
amigo. Este amigo partilha êxitos e fracassos, alegrias e tristezas, desejos,
ansiedades, receios, inquietações e projetos. O verdadeiro amigo cuida,
envolve-se, defende, está sempre do lado do amigo, no limite, ama com
incondicionalmente, é um “Amor-de-Amigo”.
Como é gratificante ser-se famoso por via de um
sentimento tão maravilhoso como é a Amizade,
mas também como é difícil alcançar, honestamente, a FAMA pelo reconhecimento,
pela retribuição da amizade dos amigos, de forma inequívoca, espontânea, com
generosidade e gratidão. Como é importante, para se alimentar o “ego”, a alegria e a felicidade, porque
ter pelo menos um amigo verdadeiro, já é uma vitória inestimável, que nos torna
famosos.
A pessoa verdadeiramente humana, normal, não é
acéfala, nem amorfa, nem estática. A pessoa, enquanto ser superior, tem um dos
mais poderosos instrumentos que, querendo, pode (e deve) colocar ao serviço da
sociedade, desde que para o bem-estar da humanidade, mas não deve utilizar esta
faculdade para o mal, para a destruição do seu semelhante.
Pelo pensamento reflexivo, meditação, concentração
sobre um determinado assunto, a pessoa humana tem a capacidade de analisar,
discutir e encontrar soluções para muitas situações, desde: a saúde ao
trabalho; da educação à formação, passando pela aplicação de regras e valores
na vida prática.
A palavra “Meditação”,
justamente a terceira letra do vocábulo FAMA é fundamental para desenvolvermos
e aplicarmos o produto do pensamento e, por esta via, também alcançarmos a FAMA,
na medida em que a capacidade criativa e resolutiva nos eleva, mais ou menos,
na sociedade.
Meditar exige um grande “esforço”. Não é por acaso
que, frequentemente, se ouvem expressões do género: “Não tenho paciência para pensar no assunto”, ou, “Não quero pensar nisso”, ou ainda, “Pensar faz doer a cabeça”. É possível
sermos famosos pelo pensamento e a comprová-lo, analise-se a vida e obra dos
intelectuais, dos grandes pensadores que já vêm da antiguidade, de resto, pensar
até proporciona melhor saúde, porque a meditação é o alimento do espírito, tal
como determinadas regras alimentares e físicas garantem boas condições na saúde
corporal e física das pessoas.
A FAMA, acabada de descrever a partir da Família, da Amizade e da Meditação
ficaria incompleta sem a ação, quarta letra daquele vocábulo que aqui constitui
uma sigla importante na vida das pessoas. Com efeito, pela Ação, pela atividade humana, é possível construir a FAMA,
aqui na perspetiva de colocar em prática o que aprendemos de bom na família,
pelo sentimento da amizade, nas relações interpessoais, que sempre se
desejam excelentes, recorrendo à meditação sobre o que é bom ou mau, útil ou
desnecessário, oportuno ou inconveniente, enfim, o que se deve ou não deve
fazer.
Seremos, seguramente, famosos pelas ações que
praticamos, neste caso, pelas boas ou más, pelo altruísmo, pela filantropia,
pelo humanismo ou pelo crime, pela desordem, pelo abuso e humilhação dos nossos
semelhantes. É inquestionável que nesta reflexão se defende o exemplo de boas
ações, que se leve à prática as boas meditações, porque enquanto pessoas,
genuinamente humanas e benignas, não se pode aceitar outras alternativas.
FAMA, sigla de Família,
Amizade, Meditação e Ação,
deverá ser o nosso grande objetivo, é a partir destes pilares, brilhantes, que
devemos procurar ser famosos, porque na verdade: “O homem pensa, Deus quer e a obra nasce”. Temos imensas
potencialidades, conhecimentos, recursos e determinação para sermos famosos,
num período da nossa vida, durante a nossa vida toda, numa determinada
dimensão, com o reconhecimento público e a valorização pessoal.
Venade/Caminha
– Portugal, 2020
Com
o protesto da minha perene GRATIDÃO
Diamantino
Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente
do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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