FAMA- Diamantino Bártolo

               Ao longo da vida, sempre haverá um ou outro período, em que o ser humano procura conquistar o seu “pedacinho” de FAMA, porque ele deseja alcançar o reconhecimento, a notoriedade, o protagonismo e o estatuto de figura pública, mesmo que à custa da privacidade da vida pessoal, individual e/ou familiar. É como que atingir o pico da satisfação das necessidades básicas, constantes da pirâmide de Maslow.
O estatuto de “famoso” é cobiçado por muitas pessoas, que tudo fazem e se sujeitam a situações, por vezes, de difícil compreensão e aceitação públicas, porque ser famoso pressupõe a possibilidade de abertura de oportunidades diversas, seja para um emprego, seja para participar em eventos interessantes, seja para mover influências.
É claro que a FAMA tem as suas vantagens e também inconvenientes, mas para quem a procura, certamente que do seu ponto de vista, os benefícios superam os prejuízos, de resto, “tudo tem um preço na vida” e “não há bela sem senão”. A FAMA alimenta, desde que moderadamente utilizada, a autoestima, pode contribuir para: treinar, aprofundar, rentabilizar e consolidar certas faculdades humanas, proporcionando um crescendo de potencialidades que ampliam a projeção da pessoa.
Concorda-se que a FAMA, perspetivada no bom sentido, implica responsabilidades acrescidas para a pessoa famosa, desde logo assumir exemplarmente um conjunto de regras, princípios, valores e sentimentos que, na vida prática, devem ser exercitados, na medida em que a análise que resulta da opinião pública em geral, e da família em particular, tanto pode elogiar e defender a pessoa famosa, como destroná-la do pedestal para que foi elevada.
Os olhos da família, dos amigos, de uma instituição, de uma população, do mundo, ficam fixados na pessoa famosa, à espera de a ver confirmar o mérito da FAMA ou a desilusão que o comportamento dela, em determinada altura, provoca. A FAMA conduz muitas vezes a extremos de difícil controlo.
Crê-se, portanto, que é essencial ser-se famoso, notável, considerado, estimado e querido, na Família, na Amizade, na Meditação e na Ação. Estas quatro vertentes da vida humana, constituem a sigla “FAMA”, porque é sobre esta FAMA que se pretende refletir e, seguramente, que se alguém conseguir desenvolver, corretamente, aquelas dimensões humanas, considerar-se-á famoso e a notoriedade, a respeitabilidade e o prestígio serão reconhecidos nos seus correspondentes contextos.
A FAMA que aqui se deseja abordar, talvez não seja a que é pretendida por muita gente, talvez seja a que mais importa à felicidade individual e coletiva, porém, esta FAMA é muito mais difícil de se conseguir, porque as quatro vertentes necessárias, obviamente, entre muitas outras possíveis, não são acessíveis a todas as pessoas, porque para se ser famoso, objetivamente: na família, na amizade, na meditação e na ação, torna-se indispensável aceitar, demonstrar, defender e praticar um elevado número de princípios, valores e sentimentos.
A primeira letra da sigla “FAMA”, vamos, então, aplicá-la à “Família”.
Ser famoso no seio da família é extremamente complexo e exigente. Partindo do princípio, segundo o qual, todos temos e pertencemos a uma família, seja nuclear, extensa ou monoparental, é verdade que, no mínimo, já pertencemos a uma instituição milenar e que, nesse quadro, nos foram pedidas responsabilidade, no cumprimento de deveres, mas também na fruição de direitos e que, em função do nosso comportamento e resultados, assim fomos avaliados.
A família, sociologicamente considerada, será, porventura, o embrião da sociedade. Na família se praticam as melhores e as piores ações; se alcançam bons e maus resultados; tanto somos amados como odiados. Na família podem ocorrer as mais incríveis situações, tal como na sociedade. Há quem afirme que: “Quem não é na família; não é na sociedade”, ou seja, um mau filho, pai ou qualquer outro parentesco, assim se poderá refletir na sociedade.
Evidentemente que, na perspetiva pessoal do autor, a família é uma instituição que urge preservar a todo o custo, à qual se deve dedicar toda a atenção, prestar os maiores apoios, nestes se incluindo um forte incentivo à natalidade. Atendendo ao já prolongado e crítico tempo de crise, pode-se afirmar que são as famílias que estão a suportar a sobrevivência de muitos dos seus membros: pais que ajudam filhos desempregados, doentes e em situações difíceis; avós que custeiam despesas dos netos e vice-versa.
A solidariedade familiar em particular, e a sensibilização da sociedade para auxiliar os mais carenciados, têm sido a “almofada” financeira do Estado, apesar de este não contemplar medidas concretas no seu programa de ação, para atenuar tanta e tão injusta austeridade que, realmente, atinge as famílias de menores rendimentos, precisamente as que nem conseguem defender-se.
Ser famoso no seio da família é um grande feito, porque isso implica estar disponível para assumir diversas responsabilidades: a começar na amizade/amor familiar, a ajudar em todos os domínios, a proteger, a preocupar-se com a saúde, como o trabalho, com a habitação, com a educação dos familiares, a contribuir para um mínimo de dignidade, de autoestima e de valorização da pessoa humana. É muito difícil ser-se famoso com tantas e complexas exigências, disponibilidade permanente para a abertura, para a entrega, para a dádiva generosa, espiritual e material para com os familiares.
Na perspectiva da “Amizade”, segunda letra da sigla FAMA é, igualmente, um requisito que envolve um dos mais nobres sentimentos humanos. Ser famoso na amizade, entendida como o amor, este nas suas diferentes naturezas – conjugal, paternal, filial, enfim, parental, mas também entre amigos, profissionais, colegas e, ainda, noutros contextos da vida societária.
O amor, qualquer que seja a sua natureza, envolve imensos princípios, regras e valores, designadamente: solidariedade, lealdade, frontalidade, crítica construtiva, opiniões, conselhos, reciprocidade. O verdadeiro amigo não esconde os seus pensamentos, as suas críticas, as sugestões, a compreensão e a preocupação pelo bem-estar e felicidade do seu amigo. Este amigo partilha êxitos e fracassos, alegrias e tristezas, desejos, ansiedades, receios, inquietações e projetos. O verdadeiro amigo cuida, envolve-se, defende, está sempre do lado do amigo, no limite, ama com incondicionalmente, é um “Amor-de-Amigo”.
Como é gratificante ser-se famoso por via de um sentimento tão maravilhoso como é a Amizade, mas também como é difícil alcançar, honestamente, a FAMA pelo reconhecimento, pela retribuição da amizade dos amigos, de forma inequívoca, espontânea, com generosidade e gratidão. Como é importante, para se alimentar o “ego”, a alegria e a felicidade, porque ter pelo menos um amigo verdadeiro, já é uma vitória inestimável, que nos torna famosos.
A pessoa verdadeiramente humana, normal, não é acéfala, nem amorfa, nem estática. A pessoa, enquanto ser superior, tem um dos mais poderosos instrumentos que, querendo, pode (e deve) colocar ao serviço da sociedade, desde que para o bem-estar da humanidade, mas não deve utilizar esta faculdade para o mal, para a destruição do seu semelhante.
Pelo pensamento reflexivo, meditação, concentração sobre um determinado assunto, a pessoa humana tem a capacidade de analisar, discutir e encontrar soluções para muitas situações, desde: a saúde ao trabalho; da educação à formação, passando pela aplicação de regras e valores na vida prática.
A palavra “Meditação”, justamente a terceira letra do vocábulo FAMA é fundamental para desenvolvermos e aplicarmos o produto do pensamento e, por esta via, também alcançarmos a FAMA, na medida em que a capacidade criativa e resolutiva nos eleva, mais ou menos, na sociedade.
Meditar exige um grande “esforço”. Não é por acaso que, frequentemente, se ouvem expressões do género: “Não tenho paciência para pensar no assunto”, ou, “Não quero pensar nisso”, ou ainda, “Pensar faz doer a cabeça”. É possível sermos famosos pelo pensamento e a comprová-lo, analise-se a vida e obra dos intelectuais, dos grandes pensadores que já vêm da antiguidade, de resto, pensar até proporciona melhor saúde, porque a meditação é o alimento do espírito, tal como determinadas regras alimentares e físicas garantem boas condições na saúde corporal e física das pessoas.
A FAMA, acabada de descrever a partir da Família, da Amizade e da Meditação ficaria incompleta sem a ação, quarta letra daquele vocábulo que aqui constitui uma sigla importante na vida das pessoas. Com efeito, pela Ação, pela atividade humana, é possível construir a FAMA, aqui na perspetiva de colocar em prática o que aprendemos de bom na família, pelo sentimento da amizade, nas relações interpessoais, que sempre se desejam excelentes, recorrendo à meditação sobre o que é bom ou mau, útil ou desnecessário, oportuno ou inconveniente, enfim, o que se deve ou não deve fazer.
Seremos, seguramente, famosos pelas ações que praticamos, neste caso, pelas boas ou más, pelo altruísmo, pela filantropia, pelo humanismo ou pelo crime, pela desordem, pelo abuso e humilhação dos nossos semelhantes. É inquestionável que nesta reflexão se defende o exemplo de boas ações, que se leve à prática as boas meditações, porque enquanto pessoas, genuinamente humanas e benignas, não se pode aceitar outras alternativas.
FAMA, sigla de Família, Amizade, Meditação e Ação, deverá ser o nosso grande objetivo, é a partir destes pilares, brilhantes, que devemos procurar ser famosos, porque na verdade: “O homem pensa, Deus quer e a obra nasce”. Temos imensas potencialidades, conhecimentos, recursos e determinação para sermos famosos, num período da nossa vida, durante a nossa vida toda, numa determinada dimensão, com o reconhecimento público e a valorização pessoal.

Venade/Caminha – Portugal, 2020

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal






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