Todos os meses eu trocava o carro.
Por prazer, mandava empregados embora.
Pra fazer bonito, acendia o cigarro,
dava duas tragadas e jogava fora.
Por ter dinheiro me julgava um forte.
Tinha quem salvava as causas perdidas.
Em meio às sujeiras, meu maldito esporte
eram mulheres, jogo e bebidas.
Eu era um inseto de instinto louco.
Inútil ao extremo; um fora da lei.
Dinheiro e mulheres acabaram aos poucos.
O montante da dívida ainda não sei.
Coberta de razão, a esposa foi embora.
Dizendo-me apenas: “adeus, cansei”.
E o nosso filho dizendo-lhe: “Amo muito a senhora,
mas no momento, é com o papai que ficarei”.
Nosso pequenino sabe algo, mas confia em mim.
Pra ele sou verdadeiro herói.
Mas no jardim da vida, um dos espinhos do meu jardim
está nesta pergunta que machuca e dói:
“Papai, é verdade que fomos muito ricos?
que aquele prédio da esquina também já foi nosso?”
Já imaginaram com que cara eu fico?
Tento responder, porém não posso.
A consciência podre começa a doer.
Eu mudo de cor e a voz não sai.
Mas prefiro o silêncio a lhe dizer:
“Meu filho, o rei dos canalhas foi seu próprio pai”.
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