Reflexão sobre Friedrich Nietzsche- Diamantino Bártolo

 

a) Vida – Descendente da família Nietzsche, de aristocratas, lutadores e “super-homens”, de seu nome Friedrich Wilhelm Nietzsche, nasceu em Rocken a 15 de outubro de 1844. Era uma pessoa bastante doente, muito frágil, construção débil. Com a morte do pai, ficou sob a influência de quatrmulheres: a mãe, a avó e duas tias, crescendo num ambiente efeminado.

sua infância foi um misto de doença, de terror e de complexos. Frequentou a escola preparatória Pforta (tradicional colégio alemão), onde estudou poesia e ciência, grego e latim. Para aliviar a tortura das horas solitárias dedicou-se à música, e nas fantasias que idealizava encontrava a energia que a realidade da vida lhe negava.

O seu estado de doença hereditária e crónica, levou-o a perder a fé na vida religiosa, e a questionar-se sobre qual era o papel da religião na vida, já que lhe era negada uma existência normal, sadia, plena de todas as virtualidades e satisfação das necessidades vitais.

Mas então o que é que assegura a vida? A vontade de viver! Nietzsche faz uso da vontade para não morrer, porque é nobre desejar a vida, apesar do sofrimento. Esta seria a sua filosofia positiva da vida.

Estudou Filologia Clássica em Bona e em Leipzig, tendo-se desenvolvido o seu entusiasmo romântico pela antiguidade grega. Cedo a sua obra filosófica atraiu a atenção dos meios científicos e, em 1869, com 24 anos de idade, foi chamado a lecionar Filologia Clássica, na Universidade Clássica de Basileia, tendo renunciado ao cargo em 1879, por motivo de doença.

Perante a situação de guerra entre a Alemanha e a França, entretanto deflagrada, sente que a sua vontade de viver, é ofuscada pela vontade de guerra, de poder e de conquistar, mas dada a sua fraca saúde, foi dispensado dos serviços ativos de guerra e passou a cuidar dos feridos, acabando por se desligar do exército depois de ter visto bastantes horrores, nunca conhecendo, porém, a infinita brutalidade dos campos de batalha. A visão do sangue tornava-o ainda mais doente, tendo regressado a casa em grande ruína física.

Entretanto, estabeleceu-se em Turim, continuando a trabalhar na sua última obra: “A Vontade de Poderio”. Em fevereiro de 1889 adoeceu gravemente, tendo permanecido imerso numa demência mansa na qual, de quando em vez, afloravam as reminiscências e as desilusões da sua vida atormentada.

Os amigos que teve, e nos quais acreditava, foram-se afastando, pouco a pouco, da sua obra. A sua fama começou a propagar-se precisamente quando já estava dominado pela loucura, não tendo dela beneficiado porque em 25 de agosto de 1900 morria na cidade de Veimar.

b) Obra – Em 1872 publicou o seu primeiro livro: “O Nascimento da Tragédia”. “As Quatro Considerações Intempestivas” foram publicadas em 1873. A ligação que o mantinha a Wagner e a Schopenhauer desfaz-se com a publicação em 1878 de “Humano, Demasiado Humano” e, uma segunda parte desta obra, intitulada “O Viajante e a sua Sombra”, saiu em 1880.

O livro revelador das suas teses é publicado em 1881 sob o título: “A Aurora”, ao qual se seguiu um outro sobre a afirmação de que o filósofo pode conduzir a humanidade a um novo destino, epigrafado de “A Gaia Ciência”, que publica em 1882.

Depois publica o poema filosófico intitulado: “Assim Falou Zaratustra” em 1891, embora tivesse sido composto entre 1883 e 1884. Em 1885 publicou: “Para Além do Bem e do Mal”, seguindo-se a “Genealogia da Moral” em 1887, “O Caso Wagner”, “O Crepúsculo dos Ídolos”, “O Anticristo”. Antes de adoecer, iniciou a sua última obra: “A Vontade de Poderio” que interrompeu em 1885 para não mais a terminar. Muitos dos seus livros foram publicados a expensas suas, e não chegou a gozar a fama que os mesmos lhe vieram a dar.

A obra filosófica de Nietzsche, é uma frontal repulsa e condenação do cristianismo, e a instituição de um homem ilimitado, autossuficiente, defendendo os valores que constituíam para ele o super-homem: a boa saúde e a força física, a ligeireza do espírito, o entusiasmo vital, a riqueza e energia internas, a compreensão, a amizade dos iguais e o êxito do dominador.

Numa sociedade ideal Nietzschiana, os filósofos estadistas são os dirigentes, porque os filósofos são os homens superiores, refinados de força e coragem, eruditos e generais ao mesmo tempo. A filosofia de Friedrich Nietzsche constitui uma tentativa muito séria, para desacreditar o cristianismo e os valores a ele ligados.

Num contexto civilizacional caraterizado por uma Europa de valores ancestrais, como o Direito Romano, a Filosofia Grega e o Cristianismo, qualquer leitura de Friedrich Nietzsche poderá constituir uma “aventura”, se se considerar que ele é um autor arriscado, provocador e, por isso mesmo, é necessário estar-se disposto a colocá-lo em causa, na medida em que a sua radicalidade torna-o num mestre da “suspeita”, porque ele filosofa a partir da sua experiência vital: um homem perante o abismo.

Verifica-se nas suas obras que Nietzsche é um pensador “errante”. Um pensador da “errância”, porque em permanente tensão, defendendo que a Fé é um produto da doença do espírito. Ele separa-se do cristianismo, de professor, da filologia, da universidade, da pátria. Ele rompe com o seu mestre, Schopenhauer, com Wagner, com a mãe e com a família. A Fé em Nietzsche é o absurdo dos absurdos, e o ateísmo é nele algo de instintivo. Cristo só houve um e esse morreu na cruz, mas, por detrás do seu anticristianismo, há uma interpelação.

No caso concreto da sua obra, “O Anticristo” é difícil concordar com ele, se se atender aos argumentos apresentados, na medida em que se afigura sofrerem de um raciocínio apriorístico, baseado numa casuística pontual, muito circunscrita a um determinado período histórico nacional, também a um ambiente niilista, agravado por circunstâncias fisiológicas próprias do autor que, irremediavelmente, o afetaram: moral e intelectualmente.

Ainda que na atualidade, se possa encontrar uma ou outra situação de algum modo análoga à descrição que ele faz da atividade dos padres, os conhecimentos disponíveis e, como já referido, no que respeita ao espaço europeu, é bem sabido que a influência da Igreja Católica, e da sua jerarquia têm sido, em geral, positiva, quer no aspeto cultural, quer quanto à construção e conservação do património arquitetónico; quer ainda e principalmente na formação ético-social das comunidades.

A cultura tradicional, que a esmagadora maioria da humanidade hoje aceita e defende, provém do valioso contributo dos religiosos monásticos; os princípios fundamentais da boa ética, vão buscar-se a muitos pensadores cristãos, que ao longo dos séculos foram desenvolvendo e divulgando as suas teses doutrinais.

Invoque-se, por exemplo, Santo Agostinho, S. Tomás de Aquino, Espinosa, Hegel e tantos outros, não menos profundos e credíveis, inclusivamente, nossos contemporâneos, destacando-se, na circunstância, o Papa João Paulo II e o atual Papa Francisco, incansáveis nos seus apelos à paz, ao amor, à tolerância, à verdade, ao trabalho, ao direito à vida, à justiça, quer a partir do altar de Deus, em brilhantes homilias e discursos, proferidos, mas também, em todos os quadrantes geográficos e políticos.

Igualmente o Papa, Bento XVI, um defensor acérrimo da paz, da justiça, do não derramamento de sangue que, constantemente a partir de Roma, e nas viagens “peregrinas” que foi realizando pelo mundo, não se cansava de incentivar os governantes e os detentores do poder para que pusessem cobro a tantas atrocidades, que sacrificam crianças, mulheres e idosos inofensivos.

Em todo o caso, a obra de Friedrich Nietzsche, objeto desta reflexão, serviu para tomar consciência de que cada vez mais o homem necessita da Fé, a pertinência de uma convicção cristã é hoje, mais do que nunca, justificada, a conveniência do homem se relacionar com os demais neste mundo, resulta, afinal, da desorientação que o envolve quando isolado, fechado em pensamentos tenebrosos.

Na verdade, o pensamento de Nietzsche, analisado à luz da sua vida física e social, é a prova mais evidente de que a sua apologética ao anticristianismo, não pode ser seguida por um ser humano que pretenda viver como Pessoa Humana, no sentido antropológico da palavra e, quanto mais não fosse, só por isto, já vale a pena meditar na sua última obra: “O Anticristo”.

O homem continuará a ter de assumir sempre, com mais ou menos evidência, aquilo que o distingue, que o torna superior, através de princípios, valores e sentimentos. A crise que neste primeiro quarto do século XXI se atravessa é, essencialmente, devida à ausência ou, pelo menos, à falta das boas práticas, justamente no campo daquelas dimensões humanas: Princípios, Valores, Sentimentos.

Naturalmente que outras crises, eventualmente não provocadas, nem controladas pelo homem, entretanto têm surgido. Desde o início da década de 20 do ano de 2020, o mundo vive aterrorizado com uma pandemia que já infetou mais de 2 milhões de seres humanos e matou centenas de milhares, em todo o planeta. Há quem afirme que estamos próximos do “fim-do-mundo”, também aqueles que a situação é fruto de interesses estratégicos, enfim, não se sabe quando terminará esta catástrofe.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2020

Com o protesto da minha perene GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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