Eu que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa de um café devasso,Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,Nesta babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorrestes um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto,Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom, sudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;E pus me a olhar, vexado e suspirando,O teu corpo que pulsa, alegre e brando,Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;E invejava, - talvez que não o suspeites! -Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada....Soberbo dia! Impunha-me respeitoA limpidez do teu semblante grego;E uma família, um ninho de sossego,Desejava beijar o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,Atravessavas branca, esbelta e fina,Uma chusma de padres de batina,E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!Se fosse, por acaso, ali pisada!»De repente, parastes embaraçadaAo pé de um numeroso ajuntamento,
E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,Julguei ver, com a vista de poeta,Um pombinha tímida e quietaNum bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então que eu, homem varonil,Quis dedicar-te a minha pobre vida,A ti, que és ténue, dócil, recolhida,Eu, que sou hábil, prático, viril.
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