O luar desmaiava mais ainda uma máscara caida nas esteiras bordadas.
E os bambús ao vento e os crysanthemos nos jardins e as garças no tanque,
gemiam com elle a advinharem-lhe o fim.
Em róda tombávam-se adormecidos os idolos coloridos e os dragões alados.
E a gueisha, procelana transparente como a casca de um ovo da Ibis,
enrodilhou-se num labyrinto que nem os dragões dos deuses em dias de lagrymas.
E os seus olhos rasgados, perolas de Nankim a desmaiar-se em agua,
confundiam-se scintillantes no luzidio das procelanas.
Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe os labios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se:
--Chorar não é remedio; só te peço que não me atraiçoes emquanto o meu corpo fôr quente.
Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ella, num grito de garça,
ergueu alto os braços a pedir o Ceu para Elle, e a saltitar foi pelos jardíns
a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ella.
Pela manhã vinham os visinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús,
e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.
Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'
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