O conselho veio da amiga querida: Não ficar na falta, mas no que se teve. Quando se viveu um grande amor, durante dezesseis anos, tudo foi ganho, tudo valeu a pena. Ele se foi, assim, como um sopro, sem dizer adeus. Como se atendesse a uma chamada lá de cima. E aí a saudade veio forte, sufocante, insuportável. Nada alivia, nada diminui. Ao contrário, são os pesadelos que sufocam, nas noites mal dormidas. Apego-me às orações, mas elas não consolam. As lembranças vêm dolorosas. Toco em objetos que eram dele, com doçura, com carinho. Nada remedeia. As fotos ajudam. A que está no computador, ele alegre, sorridente. Deslizo a mão sobre o rosto querido, querendo a magia de senti-lo vivo ainda. Tudo ilusão.
A casa é alívio e castigo. Tudo o relembra, ele, o Amado. As primaveras que plantou, tão coloridas, os ipês do jardim, os pássaros, até o sol, quando o tomávamos juntos, pela manhã, em suas pernas roliças, jovens ainda. As juras de amor trocadas à noite, os beijos do até amanhã... Tudo tão vivo! De repente, cenas amargas do velório (ele estava tão bonito, tão tranquilo) as mãos cruzadas no peito. Quando a noite chega, tenho medo, diante da cama vazia. Procuro não pensar. Pego o pequeno travesseiro do qual ele gostava, aliso-o e a saudade aperta. Procuro distrair-me com notícias jornalísticas, mas é pior. A televisão só fala de coisas ruins. Onde está meu mundo? Procuro imaginar meu doce companheiro em lugar melhor, ao redor de pessoas amadas, que já se foram. A ilusão dura pouco, não alivia. Agarro-me à frase da amiga: Não ficar na falta, mas no ganho. Foram dezesseis anos felizes, perfeitos. Prêmio ou castigo? Se prêmio, por que acabaram? A separação repentina é um castigo?
Ah, meu amor, tudo é tão vazio sem sua presença, tudo sem sentido, amargo, cruel. Apego-me à ideia de que voltaremos estar juntos. Mas quando? E minha partida será doce e breve, como a sua, sem dor, sem desespero? Por que histórias de amor sempre têm final triste?
Não ficar na perda, ficar no ganho. O conselho é lindo, profundo, mas o coração não acredita muito. Ele quer o impossível. Ele quer o não acontecido. Ele o quer de volta aos meus braços vazios. Ele o quer junto a mim, para sempre, sem nunca dizer adeus.
* Ely Vieitez Lisboa é escritora
E-mail: elyvieitez@uol.com.br
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